Elaboração, coleta e transcrição da entrevista: Alessandro de Moura.
[Falta revisão]
[Falta revisão]
Maria do Carmo Gomes, nasceu em Minas Gerais em uma cidade
do interior chamada Senador Firmino em 1953. De Minas Gerais migrou para
Eldorado. Depois migrou para Registro/SP e depois para Ribeirão Pires/ABC.
Empregou-se na Monange, indústria química em 1969 aos 16 anos. Inicia sua
militância durante a década de 1970. Trabalhou na Magneligas, sendo
demitida por organizar os trabalhadores. Em seguida ingressou na Metal Yanes. Foi
presa em 1979 por participar da organização da greve geral daquele ano. Em
seguida ingressou na Wapsa Autopeças , fábrica que contava
com mais de 1.000 operários, permaneceu nessa empresa de 1981 a 1984. Foi
dedurada pela burocracia sindical pelega e demitida pela patronal. Em agosto de
1984 ingressa como operária na Sharp componentes eletrônicos, fábrica que
também contava com cerca de 1.000 operárias. Nessa fábrica, onde trabalhou até
1989, integrou a CIPA e a Comissão de Fábrica. Trabalhou ainda na PIAU na
Microtec. Também participou dos núcleos de base do PT e militou na CUT pela Base sob o movimento da
Oposição Metalúrgica de São Paulo. Por causa de sua trajetória de militância, não conseguia mais
emprego na indústria, o que a obrigou a sair do ramo metalúrgico.
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Como
a senhora teve contato com a militância?
Olha, eu acho que era uma questão, uma discussão assim,
mesmo, que tinha na família, em conversas e tal, você começa a despertar.
Depois, eu tinha, tinha a minha irmã que já era militante e que estava nos
Químicos e tal, que era casada com o Adalberto Nachevenge que era da Oposição
também. Em 1978, quando começou as greves de maio eu já, eu não estava
trabalhando, eu estava fazendo curso de química, um curso técnico de química
industrial, química industrial aqui no Angélica e eu já estava mais... Já...
Estava lendo, estava vendo as coisas do sindicato e entendendo. Aí, na época
das greves, eu já fiquei no apoio né... Então eu já saia de manhã cedo com o
pessoal para distribuir folhetinho...
Isso
em 1978?
Em 1978. É a greve... E teve eleição em 1978, né, dos
metalúrgicos também...
Já
participou da campanha eleitoral do sindicato em 1978...
Então, já participei como apoio de manhã na distribuição de
materiais. Mas aí, ah, pulei o principal que você perguntou: O contato. Em 1976
eu conheci o Stan [Stanislaw Zsermeta], eu fiquei... Eu conheci o Stan em, acho
que... ele já me conhecia em 1975, mas eu conheci ele em 1976, no início de 1976,
e era na casa da minha irmã, porque teve uma reunião e os militantes se
reuniram e tal e eu estava lá naquele período, acho que eu estava morando lá
com a minha filha porque eu tinha saído do emprego e tal. Estava trabalhando na
FASE, isso mesmo. E eu conheci ele lá na casa da minha irmã e eu comecei a
acompanhar as discussões, embora ele sempre foi um "chega pra lá",
não queria que eu participasse disso né.
Então em 1978 eu ia, ia para as reuniões de apoio, eu ia
para a distribuição e tal mas não era aquela coisa discutida com ele, porque
por ele eu não ia, ele não queria que eu fosse porque eu estava fazendo o curso
de química industrial e ele, até que ele estava certo naquele momento, porque
eu acabei perdendo o curso. Mas eu não queria saber disso, eu queria ir junto.
Então foi assim, aí em 1978, no começo de 1979, não me lembro direitinho, mas
eu acho que foi. Eu arrumei como estagiária, não era bem como estagiária, mas o
cara só pegava estudante, estagiário por que? Não tinha outro, eu era a única
responsável, numa indústria que chamava Magneligas lá em Santo Amaro não
em Interlagos, é na Campo Grande...
Não
existe mais existe?
Não, ela faliu. Era um engenheiro, na verdade assim, era um
dono só, um engenheiro, era uma fundição e ela produzia ligas, ligas de
alumínio, ligas metálicas para indústrias grandes. E eles precisavam, como eles
tinham fundição e os peões lá, lá não trabalhavam mulheres, tinham duas meninas
no escritório, era uma fabriquinha pequenininha, "boca de porco" como
a gente fala, que era fundição, então devia trabalhar lá uns 15 peão na
fundição e umas 2 meninas no escritório e tinha um laboratório, o laboratório
estava sem ninguém e ele precisa, porque ele precisa pegar as ligas, fazer as
análises para ver se as porcentagens de metálicas estão, está boa para o
fornecedor. E esse anúncio foi colocado lá no colégio que eu fazia, no Osvaldo
Cruz, química industrial, eu estava no 2º ano, não sei se era no segundo ou se
eu já tinha ido para o 1º, aí precisava ver, não lembro direito. E ele
precisava de um estudante que tivesse disponibilidade e tal... Aí eu fui,
falei: "Opa". Era na metalúrgica né, eu já estava interessada. Aí eu
fui para lá e a menina que estava saindo, já tinha terminado o curso e estava
indo para um outro emprego melhor, lógico, porque o salário era muito
pouquinho. Ela ficou uma semana comigo,
me ensinou o serviço, não tinha muita coisa porque as ligas eram quase sempre
as mesmas né, então você acabava fazendo, aí eu fiquei lá. E eu trabalhei lá,
eu trabalhava sozinha no laboratório, eu era responsável pelas ligas e tal,
fazia as análises, e eu, o que que aconteceu, em 1979...
A
senhora entrou lá em...
Eu entrei, eu devo ter entrado no final de 1978 ou no começo
de 1979. Bem no comecinho. Quando chegou na época das greves, eu mobilizei a
fábrica e levei, em 1979 na campanha, eu levei todo mundo né, para...
Tinham
quantos trabalhadores?
Olha, aquilo que eu te falei, devia ter uns 15 peão, no
máximo, entendeu, entre eletricista de manutenção, de tudo assim, responsável por...
Porque era uma função, eles trocavam, eles trabalhavam dia e noite porque o
forno precisava ficar ligado e tal. E aí, eu... Foi todo mundo né, parou tudo,
só ficou as menininhas lá no escritório trabalhando e tal. Quando eu voltei da
greve, quando terminou a greve, que a gente voltou, é claro que ele dispensou.
Uma porrada, mandou embora, inclusive eu.
Mandou todo mundo embora?
Mandou...
Os
15?
Não, todo mundo não. Ele mandou alguns, ele mandou os
mais... O eletricista de manutenção que estava comigo foi... Mas, o porém, ele
me mandou embora mas ele não tinha ainda ninguém para ficar, e ele não sabia,
ele era engenheiro químico mas ele não sabia fazer as experiências. E eu já
tinha viajado, tinha uma liga que ele estava, tinha começado a fazer, que era
uma liga de alumínio que ia para uma empresa de produção de avião, porque
alumínio é um material leve né. E, eu já tinha duas vezes ido para Contagem,
que era onde tinha a empresa que ia comprar as ligas para fazer lá no
laboratório, eles tinham um puta de um laboratório lindo, a análise, aprender a
fazer do jeito que eles faziam pra não ter diferença, bom, passou... Fui
demitida, mas era de esperar, aquela coisa toda. Passou uns 20 dias ele me
chamou lá, falei: "Pô, será que eles vão me pagar antes da hora e
tal?". Quando eu cheguei lá, ele me chamou porque tinha sido rejeitado um
lote de liga e era uma liga que eu tinha feito análise e tinha dado certo. Ele
falou: "Você vai ter que ir para contagem e fazer análise lá e comprovar
para mim que não está errado". Eu falei: "Mas pô, eu estou demitida,
eu não vou não". Ele falou: "Como demitida?", ele era um
engenheiro baixinho assim [faz gesto de altura], gordo, filho da puta:
"Como demitida, que história é essa? Me mostra então a carta de
demissão". Eu caí na besteira de mostrar, o cara rasgou, lógico né, fui
obrigada a voltar. Eu ainda fiquei lá... Eu vou ser sincera com você, eu não
sei dizer quantos meses, porque eu voltei, eu fui para Minas, fiz análise,
provei que estava certo, voltei, depois eu fui demitida, mas eu não lembro
quanto tempo. Porque essa carteira foi uma carteira que eu falsifiquei, eu não
tenho a verdadeira, entendeu, eu tenho registro, tudo, mas a verdadeira mesmo,
eu tenho o registro que eu mudei, eu coloquei cargo de ajudante geral, mudei o
tempo de serviço porque eu precisei... Voltei para arrumar... Então eu não sei
quanto tempo eu fiquei, mas ele me sacaneou muito, eu chorei muito, ele me
humilhou muito, porque ele me rasgou a carta...
Ele
te obrigou a ficar...
Ele falou: "Não, você vai ficar, eu te pagou esses dias
que você ficou em casa, não quero saber não, mas você vai amanhã para
Minas". Aí eu tive que ir. Então esse foi o primeiro enfrentamento
patronal, assim, que eu tive. Depois eu acabei ficando desempregada. Aí eu fui
trabalhar lá na Metal Yanes em
Santo Amaro, com esse emprego e com a carteira, eu tinha mudado o cargo, eu
tinha colocado como ajudante geral, eu não podia colocar auxiliar de
laboratório, ou estagiário, senão eu não ia conseguir... Depois de ter
procurado muito emprego em laboratório químico, eu desisti e aí fui para
produção. Eu não fui para a produção porque foi uma escolha minha ir para a
produção, eu fui porque eu não conseguia outro.
Isso
na Metal Yanes, a senhora foi para a produção lá...
Isso, fui para lá. Mas foi, a minha primeira onde eu
trabalhei direto na produção. Eu trabalhei lá um ano e onze meses, porque lá,
eu fui lá quando o Ramón nasceu, sabe (...). Então, naquele período, eu tive,
eu entrei lá, logo em seguida eu engravidei e aí eu consegui ficar né, porque
na gravidez não podia demitir, quando terminou, quando estava perto de terminar
a minha licença já era época da eleição de 1981. Então eu consegui, através de
médico, porque naquela época era só 3 meses de licença maternidade né, e, através
de alguns médicos, depois eu consegui mais 15 dias de amamentação, que deveria
ser um direito mas a gente não conseguia, e esses 15 dias foi que eu usei para
ajudar na campanha em 1981. Então aí já era uma militância bem... Em 1979 já...
E
o que a senhora lembra das eleições de 1978?
Ah, eu me lembro do roubo, me lembro lá da porta, do dia do
roubo da urna, o Vito mostrando que a urna tinha sido roubada. Embora, eu tive
uma participação, assim, como apoio de fora, não atuante. Em 1981 eu já fui
fiscal né, já trabalhei como fiscal já votava...
Em
1978 a senhor já participava das panfletagens, a senhor foi panfletar aonde?
Olha, eu não me lembro os nomes de fábrica assim, mas eu já
te falo, muito mais em Santo Amaro. Santo Amaro, Itapecirica, aquela região ali
na estrada de Itapecirica que é: Santo Amaro, Metal-leve...
E o que te atraiu na Oposição em 1976, 1977, 1978?
Na verdade, eu acompanha a discussão na minha casa, com a
minha irmã, aquela coisa nervosa, tinha perseguição dos trabalhadores e tal, eu
queria viver isso um pouco mais de perto, no começo né, e o conhecimento dessa
história. Acho que foi isso que atraiu mais, vontade de militar.
Sua irmã chegou a militar na Oposição?
Minha irmã era. Mas a minha irmã nunca foi metalúrgica, bom,
ela chegou a trabalhar em uma metalúrgica, mas ela foi mais dos químicos, ela
foi da direção dos químicos antes de 1964, foi meio que...
Ela
foi cassada no golpe militar?
Então, essa história dela eu não sei muito direito. Não sei
se foi no golpe ou depois do golpe, não sei como é que foi. É... Acho que ela
saiu fora, acho que foi caçada, eu nunca consegui conversar bem com ela isso.
Porque depois também, na Oposição, teve-se divergência e ela acabou saindo com
os 21 e a gente ficou, então ficou meio...
Essa separação dos 21 foi em que ano?
Foi no primeiro Congresso, acho que foi no Primeiro
Congresso da Oposição.
Em
1979?
Não lembro a data cara, acho que foi em 1979, eu precisava
ter o documento para confirmar... Na tese tem a separação dos 21. Acho que foi
em 1980 porque São Bernardo estava em greve. A desculpas do racha foi: Fazemos
a discussão, fazemos a nossa tese, ficamos aqui o dia inteiro ou vamos para são
Bernardo apoiara greve deles, entendeu? Esse foi o, entre aspas, o racha, a
história do racha. E a minha irmã foi e eu fiquei.
Ela
foi para construir no ABC?
Foi com os 21, é... Foi para o apoio e a gente continuou o
Congresso, não lembro o ano cara, eu não estou lembrando...
Foi antes das
eleições de 1981, né?
Foi, foi antes, 1979, 1980. Então, até aí, nessa história,
eu não tinha trabalhado em fábrica com muitas mulheres, em 1981, ano da
eleição, logo após a demissão de 1981, eu, porque aí terminou a minha licença,
eu voltei para a fábrica, fui mandada embora e aí eu fiquei um período sem, não
muita coisa eu acho, porque ainda não estava muito, não tinha essa perseguição.
Aí eu entrei na Wapsa e sai em 1984. Em 1981, acho que foi em agosto de
1981 não lembro em que mês foi a eleição, mas eu acho que foi em agosto de 1981
[que entrou na Wapsa Autopeças]...
Logo depois das eleições?
É. Eu fui demitida, não, logo depois da... Eu não sei quando
foram as eleições. Então foi em 1982 que
eu entrei... Não foi nessa [eleição de 1981], eu estava na Wapsa na eleição de
1984, então eu entrei em 1982, agosto de 1982. Sempre, meus empregos é sempre
em agosto... Não sei porque, mês da sorte.
Em agosto de 1982 eu entrei na Wapsa, aí, na Wapsa eu já tinha uma
participação, mesmo porque...
A Wapsa produzia o que?
Peças para automóveis, peças para automóveis, rolamentos...
Lá já tinha bastante mulheres na linha né, ainda não era a maioria, mas...
Tinham quantas pessoas trabalhando lá?
Ah, a Wapsa era uma fábrica grande, eu não sei dizer, mas,
mais de 1.000 pessoas, ela tinha turno noturno né...
Onde ficava?
Em Santo Amaro também, na João Dias. Eu acho que, se eu não
me engano, ela foi para São José depois de um tempo, ela não está mais lá não.
Então, na Wapsa eu trabalhei de 1981 até 1984 e eu participei, lá, na CIPA...
Na CIPA a senhora
entrou em que ano?
Não, eu não fui eleita, eu não cheguei a ser eleita, eu só
fiz a campanha.
Já tinha trabalho da
Oposição lá quando a senhora chegou?
Não. Não tinha, já tinha tido um militante lá, mas já tinha
saído, já fazia tempo e eu também não tinha contato, não sabia quem era, e, lá
na Wapsa a gente... Eu já participava na Oposição, mais ou menos frequente e
tal, e lá eu já consegui, eu já reunia pessoas, eu consegui depois de 1 ano e
pouco, a montar um grupinho clandestino né, um grupinho clandestino e a gente
já elaborava, conseguimos elaborar um boletim... Pois é, isso daí que agora, eu
vou agora aproveitar esse ano para ver se eu faço essa pesquisa para ver se eu
acho, um boletim que chamava Motor de
partida, que era um boletim de denuncia, era clandestino, lógico né, mas
tinha um... era característico do Piquetão,
com aquela cara, você já viu o boletim Piquetão?
Já vi, já vi...
Então, como o Piquetão
era a nossa cara, então esse boletim que chamava Motor de partida, era a cara assim do Piquetão, só que ele tina um desenho que foi o Celso... Você conhece
o Celso? Também não, né?
Não...
Então o Celso era um dos apoios que a gente tinha em Santo
Amaro, e ele é desenhista, né... Então ele que fez o desenho para mim, de um
motor, assim, como se fosse um motor de partida com aquela carinha, assim, de
bravo sabe? Chamava Motor de partida
esse material.
Esse grupo
clandestino que a senhora formou tinha quantas pessoas?
Olha, 4 pessoas, muito pequeno, era porque era clandestino
mesmo, não podia descobri. Porque, aí, quem ia distribuir o material quando
ficava pronto... Era uma material, geralmente um material de denúncia da
fábrica, não era só...
Não era só
político...
É, os outros jornais, os boletins de fábrica, eles tinham
característica de ser bastante específicos, então os boletins eram específicos,
então denunciava o problema do banheiro, as mulheres, por exemplo, aquele
negócio da fichinha, do chefe ficar controlando quantos minutos você demorava
para ir e voltar no banheiro, ter que esperar a outra chegar para depois você
ir, então era esse tipo de denuncia nê, as questões específicas da fábrica. Eu
acho que eu cheguei, a gente chegou a fazer uns 5 boletins, tudo com muita
dificuldade porque as vezes a gente rodava no reco-reco, eu não me lembro se o Motor de partida eu cheguei a fazer no
CPV... Eu me lembro que depois, na fábrica seguinte, isso foi em 1984, eu saí
de lá em 1984, saí de lá em 1984, um dia depois da Convenção... A Convenção foi
no final de semana, terça feira de manhã eu fui mandada embora da Sharp...
Não é da Wapsa?
Da Wapsa, em 1984.
E tinha a ver com ser
militante?
Tem, com certeza tem. Porque estava tudo bem, eu sempre
trabalhei, eu aprendia a trabalhar na fábrica na clandestinidade, então era
muito falso nesse sentido de não dar bandeira. As reuniões a gente fazia sempre
longe, as pessoas que a gente ia para as reuniões, normalmente não ficava
conversando dentro da fábrica, na porta e tal. Quando a gente tinha que
conversar a gente dava um toque assim, já sabia que na saída a gente ia... Se
encontrava longe.
Tudo escondido?
Tudo escondido. E, em 1984 a característica da tirada da
chapa foi muito legal. Porque era assim: Você fazia uma reunião da fábrica, com
as pessoas que você podia trazer da fábrica, a fábrica indicava alguém e aí ia
para a Convenção da Oposição, entendeu? Então eu fui para a Convenção da
Oposição...
A senhora foi eleita
pela sua fábrica?
Isso, mas era um pouquinho só, eu não tinha muita
representatividade dentro da Oposição. As mulheres já não tinham muito, ainda
quando a fábrica era pequena assim...
Mas como a senhor fez
para ser indicada? Porque tinha que ser clandestino.
Mas a gente tinha esse grupo que fazia esse jornalzinho,
então não era uma coisa convocada assim, entendeu? Era pouca gente, por isso
que eu estou falando, tinha pouca representatividade porque não tinha uma
comissão de fábrica que tinha estabilidade nesta época. Aí, a gente veio para a
Convenção, mas lá da fábrica só veio eu e mais uma pessoa mesmo. Mas eu vim com
o propósito, não era eu entrar na chapa, era para eleger o nosso pessoal [na
Oposição], porque tinham disputas maiores né.
Dentro da própria
Oposição?
É. Sempre tem essas coisas. Aí, na segunda feira, aconteceu
um fato interessante, eu voltei segunda feira para a fábrica, eu estava
tranquila, falei: "acho que não". E na tardezinha, quando eu estava
saindo na segunda feira, lembro que eu estava... Eu não tinha visto, eu estava
descendo, estava um rapaz que era, que participava da... Eu tinha conseguido
levar ele para as reuniões da Oposição nossa. Era na Associação dos
trabalhadores de Santo Amaro, tudo isso foi uma luta que a Oposição fez,
conseguiu montar uma casa onde se reunia, como se fosse uma sub-sede, só que
tinha uma sub-sede dos Metalúrgicos né, era paralelo, era meio paralela
assim... E esse rapaz, que era... Depois não consegui mais contato com ele,
acho que ele não participou nunca mais, o Francisco, ele era do controle de
qualidade, era um dos meninos que eu consegui levar para a Oposição, assim,
para as reuniões lá em Santo Amaro e tal, e ele que me deu um toque. Estava
vindo assim, pela calçada da João Dias para pegar o ônibus e ele passou e me
deu um toque e eu olhei e vi o Luiz Antônio [de Medeiros], ele era o Diretor do
Sindicato, eu vi o Luiz Antônio entrando pela portaria principal...
O Medeiros?
O Medeiros... Pela portaria principal da Wapsa, porque era
assim, era super grande, ela pegava o quarteirão, ela era enorme, muito... A
entrada do pessoal de escritório é completamente separada do pessoal da
produção... E ele estava entrando as 5 e meia da tarde, no horário que a gente
está saindo e pela portaria principal, ele me deu toque...
Estranho...
Eu olhei, falei: "Mas que tinha". No dia
seguinte... Sem contar que ele faziam de propósito, quando eles iam distribuir
jornal do Sindicato, na hora que você está entrando, que eles estão
distribuindo, eles fazem questão, para o guarda ver que eles te conhecem,
entendeu? Ele fazia isso: "Oi, e aí, tudo bem?". Dava um toque de que
te conhece, que você tem participação, ele fez isso umas duas vezes e depois eu
vi esse dia e no dia seguinte eu fui chamada no RH e fui demitida. Não me
deram... Não me falaram o motivo e ficou entendido para mim, não tenho como
comprovar, mas ficou entendido para mim que foi caguetagem. Aí, nessa fábrica,
na verdade, a gente... Eu não consegui, trabalho com mulheres, específico, eu
não consegui fazer. Foi um trabalho mais de oposição mesmo, de conscientização,
trabalho clandestino miudinho, nas campanhas e tal, trabalhar com o jornal da
oposição, clandestino, porque tal, então passava de forma muito escondida, dava
para passar alguns e tal. Mas era muito difícil trabalhar.
A senhora chegou a
militar em alguma corrente nesse período?
Não. Nunca militei em corrente. Só na Oposição mesmo.
Dentro da Wapsa tinha alguma corrente, que a senhora sabia,
militande de alguma corrente ou partido?
Não. Não tinha. Na Wapsa... Não, não tinha não.
Aí a senhor saiu de
lá em 1984.
Sai em 1984.
E a senhora foi para
onde?
Então, não me lembro a época que eu sai, mas em agosto de
1984, agosto de novo na minha vida, eu entrei na Sharp, componentes
eletrônicos, que faliu né. Tudo já está falido. [risos].
É, a Sharp não existe
mais né...
Não, foi para Manaus e depois...
Tinham quantos
trabalhadores na Sharp?
A Sharp era uma fábrica caracteristicamente feminina. Muita
mulher. Completamente diferente de todas que eu já tinha trabalhado e é... Era.
Não sei dizer para você se ela era maior que a Wapsa... Ela tinha, quando eu
entrei lá ela tinha por volta de uns 1.000 funcionários. Mas ela tinha uma
característica muito diferente e facilitava um pouco o trabalho porque ela
trabalhava muito com linha de montagem e não tinha tanta maquinaria alta. Então
na Wapsa, para você vê...
Maquina pesada?
É máquina pesada. Para você ver o cara que estava na outra
máquina você tinha um pouco de dificuldade porque fica muito distante, lá [na
Sharp] não, lá você, de uma seção, acho que eram 6 [conta em voz alta], acho
que eram 5 seções e era tudo aberto assim né, então o corredorzão da sua seção você,
dava para você, se você tivesse atento, você via mais ou menos o que estava
acontecendo na outra seção, entendeu? Então ela era muito, bem legal de
trabalhar assim nesse sentido. Muita mulher e tal, característica básica, de mulher e bastante diferente. Lá eu
fiquei de 1984 a... Deixa eu ver.... A Natália nasceu lá... A Natália é de
1987, acho que sai de lá... Em 1989 eu sai de lá...
No ano da eleição do
Lula?
Não... Que eleição do Lula?
A de 1989... Lula e o
Collor...
A eleição de 1989, a primeira vez?
É, que tinha dado
empate, mais a o Collor conseguiu passar na frente...
Estou tentando lembrar... É, acho que sim... Eu lembro que
quando...
A senhora deve ter
militado nessa eleição...
Na campanha você está falando?
É...
Sim... Mas eu não estou lembrando direito... Não estou
fazendo a ligação da data, foi muita greve geral que teve no meio dos
movimentos, porque além das eleições, das greves específicas, teve as greves
gerais, não dá para você contar com detalhes.
Deixa
eu perguntar uma coisa: O PT foi fundado em 1981, a senhora não entrou no PT,
não quis entrar no PT?
Eu não entrei, eu não entrei na época, porque, na verdade,
assim... A Oposição, não sei se alguém já te falou isso, teve um período que a
gente fazia umas discussões mais clandestinas do que as normais, então, tinha
um nome, que chamava ATIVO, já te falaram do ATIVO? Era uma... E a gente
acreditava muito, principalmente a gente da Zona Sul, tinha eu, tinha o Elmo, o
Paulinho Camadeo, então a gente era como se fosse o segundo... Aquela base ali,
e, a gente acreditava muito nisso, que a gente era aquela vanguarda, então
tinha algumas discussões que tinha que fazer assim, meio por fora. E essa
discussão foi feita, que a gente não devia, na verdade era uma discussão meio
sectária de que não se toma o poder através do parlamento. Não se muda né.
Então que você... O Parlamento é uma máquina de corrupção né, que difícil, se
você propor a entrar, você tem que entrar com um firme propósito de denunciar e
trazer à tona tudo o que está acontecendo. Então eram essas as discussões que a
gente fazia. Não era nem questão de ser o Lula ou não ser o Lula, tinha aquele
monte de divergência muito grande entre, lá, os... Como é que era chamado lá...
Os...
Os autênticos?
Era os autênticos e a gente né, principalmente o MOMSP. O
MOMSP era o terror, não sei porque, não tinham nem tanta coisa de diferente
assim. Mas era terror no movimento. Então a gente tinha decidido que não ia,
não ia entrar, não ia se filiar. Eu participei, eu cheguei a participar dos
encontros né do ENTOES, do ENOS, eu cheguei a participar em São Bernardo.
Cheguei a ir para o Rio com o pessoal e tal, mas aí, depois quando definiu que
ia... Ah, mais aí eu estou falando da fundação da CUT... Estou misturando, o
ENOS e o ENTOES era discussão da central única, que, se seria uma central de
trabalhadores ou se seria uma central de sindicatos... Nós tínhamos uma posição
de que teria que ser uma central dos trabalhadores pela base.
Foi a que ganhou?
Não, não ganhou. O nome ficou Central dos Trabalhadores, mas
é central dos sindicatos. A diferença é a representação. Se a representação é
por sindicato ou se a representação era por trabalhadores. E essa coisa batia
muito forte na gente que era novo e a gente chegava, os capa preta, já ouviu falar esse termo?
Já, já...
Só que... Muita gente tinha essa visão, falava o "capa
preta" de uma forma pejorativa, a gente achava que era "capa
preta", mas que "capa preta" era um termo... Era bom. A gente se
espelhava nas posições, discutia, tinha as posições e tal, mas a gente
defendia: "É realmente". E a gente acreditava que a central única dos
trabalhadores ela tinha que ter representação na base, por isso que a gente
ficou... A gente, dentro da CUT, a gente era CUT pela base, entendeu, CUT
pela base porque era a tese que a gente defendeu na formação da CUT, que a
CUT... E isso também era muito pesado, essa discussão.
É, porque se entra
pelo sindicato não tem como organizar pela base...
Fica... A representação fica sindical, não é representação
dos trabalhadores. Você pega, por exemplo, uma empresa... São Bernardo era mais
fácil fazer isso porque eles têm um peso grande com comissões de fábrica, já
tinha comissões de fábrica (...), então dava para tirar representantes a nível
sindical dentro da fábrica. Em São Paulo, como nós éramos oposição... E outra
questão, quando você pega representação por sindicato, as oposições ficam fora,
porque oposição não é sindicato. Você entendeu? Então uma das grandes brigas
era essa... Nessa luta, o Chico Mendes, lembrei o nome agora que estava na foto
com o meu pai, lembro que o Chico Mendes veio várias vezes discutir também essa
questão. Então as oposições tinham uma forte briga com São Bernardo, São
Bernardo defendia a CUT-Sindical, com representação sindical. Então só os
sindicatos poderiam ter representação... Depois se conquistou, depois se conquistou
algumas... A Oposição de São Paulo conseguiu algumas representações, mas não
tinha a mesma conotação de quando você tem uma CUT pela base que a
representação não é sindical, a representação é por categoria. Essa era a
diferença.
E o ATIVO, então, o
que era?
Olha, dentro da...
Era um grupo mais...
Que faziam discussões políticas mais profundas. Então tinha
lá o Rossi, o Neto...
E quantos tinham
nesse grupo, mais ou menos?
Não sei. A gente chegou a fazer um encontro em São Bento, no
Mosteiro de São Bento, uma vez a gente foi e tal... Assim, acho que umas 30
pessoas. É onde a gente conseguiu fazer discussões políticas mais avançadas
né... Porque a Oposição era muito mais aberta nisso, de discutir mais a questão
sindical... Mas também não foi para frente né... Era bobagem aquela... Aquelas
discussões já poderia estar sendo feitas.... E eram tentativas. Assim como teve
isso, tinha outros né... O pessoal da Pastoral também tinha os seus... Era uma
forma de fazer uma discussão mais política e mais fechada, né... Era essa a
idéia. E a gente tinha uma força muito
grande, porque a gente estava entrando nos anos de 1979, 1980, a gente estava
entrando, a gente jovem né, assim, na luta, a gente acreditava, acreditava na mudança,
acreditava no (...). Tanto é que a gente fazia qualquer coisa para conseguir:
"Não, vamos precisar de coquetel molotov, então como que a gente
faz?". Isso sem eles... Os caras não sabiam nada, "os capas
preta". Eu lembro que quando eu estava...
Você está gravando isso?
Tá gravando, mas não
tem problema...
Eu estava lá nesse laboratório que eu era responsável, então
perguntavam se eu não conseguia tirar hidróxido de amônio liquido né, aí os
meninos perguntavam para mim se eu conseguia fazer um pedido de um litro a mais
e tal, que era eu mesmo que controlava, para fazer os coquetéis molotov que a
gente acreditava que ia precisar no dia né, para... Para os ônibus e tal. Mas
acabou, na greve de 1979, nem precisou dessas coisas... O piquetão foi
suficiente... [risos]. É... Mas isso mais para a greve geral né... Teve várias
aí pelo meio do caminho, greves gerais que aí precisava parar os ônibus na
madrugada. Mas era isso.
Agora, com relação a trabalho com mulheres, dentro da
fábrica, de produção, eu acho que a Sharpe... A Sharpe foi a fábrica que eu
consegui mais concretamente mobilizar, ter o material, ter o grupo... Começou
com a CIPA, depois teve a comissão de fábrica reconhecida.
A senhora chegou a
entrar na CIPA?
Eu tive 2 mandatos na CIPA...
Em que ano?
Acho que eu entrei em 1985, era um... Acho que foi de 1985 a
1987...
Era de um ano o
mandato né?
Um ano. É duas vezes, você só pode se candidatar duas vezes.
Então foi de 1985 a 1986 e de 1986 a 1987, está certo, dois mandatos, isso
mesmo.
Mas, ainda sobre a
CUT e PT, formando esses organismos de massa, a senhor não ficou com vontade de
entrar?
Eu entrei depois, eu entrei no PT depois. A gente entrou...
Fiquei, fiquei com vontade sim. Mas é... Não me lembro quando, mas eu me filiei
quando o pessoal [da Oposição] decidiu né... Teve uma discussão aí a gente se
filiou em massa.
Em 1987?
Isso. Aí a gente se filiou em massa. [risos]. Bastante
gente. Mas aí, depois quando eu fui lá na periferia para votar, eu cheguei lá e
não achei a minha ficha, acho que eles jogaram fora, aí eu fiz de novo. [risos].
Eu fiz de novo! E foi uma bobagem nossa não ter se filiado no início, porque a
gente tinha discutido tanto a questão de um partido operário... A idéia é um
partido operário, porque não podia ser o do Lula né, o PT? Mas a gente, não
sei... Uma bobagem. Deveria ter entrado no começo.
É por não ter entrado
como um bloco organizado vocês perderam força né...
Na verdade a gente discutia a necessidade de um partido e
não... Eu tive sim. Eu achava que a gente devia entrar sim.
E na CUT, você acha
que a Oposição teve influência na CUT? Conseguia influenciar nos rumos da CUT?
Eu acho que deve ter influência... É... Porque tudo o que
você tem oficial, você precisa ter uma oposição para o negócio poder ir para
frente né... Se fica tudo legalzinho, fica tudo legalzinho né, vai gostando.
Mas as posições que a Oposição, a teses que... A gente ia para os Congressos
com tese e tudo... Nunca passava... [risos]. Nunca ganhava, a gente era sempre
derrotado. Sempre derrotado. Acredito que influência deve ter tido, o Neto participou
muito, depois, na CUT. Foi né... Teve uma influência grande. O Carlúcio, que já
morreu, companheiro nosso. Então eu acho que nesse aspecto as propostas da
Oposição foram para a CUT de certa forma, algumas deve ter sido aproveitadas,
mesmo que eles não dêem o braço a torcer para dizer que era proposta da
Oposição, mas deu... Então nesse caminho, tem muitas outras né, teve Congresso
das mulheres metalúrgicas no Sindicato, que a gente participou...
Isso quando a senhora
estava na Sharp?
Eu não estava na Sharp ainda... Isso foi antes, eu não
lembro quando foi o ano. Mas eu não estava ainda na Sharp... Esse primeiro
Congresso que era com o Joaquinzão, era o Joaquinzão lá. eu me lembro que a
briga era muito forte com o Joaquinzão, as mulheres e tal. Então, um Congresso
muito legal, mas a gente tentava passar as nossas propostas no Congresso,
através... Aí, era as mulheres da Oposição. então eram as meninas que estavam
aqui [no lançamento do livro], mais algumas que não estão mais. Tem a Bene que
foi embora, aí tinha... Tinha várias. E a gente tinha um bloco. Eu andei
participando. Olha, um dos primeiro Congressos, acho que foi o primeiro
Congresso da Mulher Metalúrgica de São Paulo...
Esse é o de 1979?
Foi em 1979? Acho que foi 1980, 1979 ou 1980. eu sei que eu
participei, mas... É, acho que foi 1979 ou 1980. Mas eu acabei não terminando,
eu tive um aborto no meio do Congresso. Acho que a tensão foi tão grande e aí
eu acabei não ficando até o final. Mas eu acho que foi 1979, coisa assim.
Foi na Sharp que a senhor
organizou a comissão de fábrica?
A Sharp dá saudades. A gente começou pela... A Sharp tinha
uma tradição, na verdade, assim, ela não tinha omissão pronta. Mas a Sharp veio
de... Acho que foi de Osasco, ela era pequenininha lá e ela mudou para o Campo
Limpo, que é perto da minha casa. Perto assim, 5 min. de ônibus, para ia a pé é
meio longe mas dá pra ir. E ela tinha lá, já em Osasco, umas meninas que eram,
que eu conheci, que eram as meninas da JOC. Tinha uma menina da JOC, mais um
rapaz e eles já tinham tentado lá, alguma coisa e não tinham conseguido. Quando
eles vieram, quando eles mudaram para o Campo Limpo, a Sharp inchou, sabe,
inchou. Eles pegaram muitas, muitas, muitas mulheres. Muito grande, pegou muita
gente, deu emprego para muita gente. Então ficou, ao mesmo tempo que ficou mais
difícil de trabalhar, tinha muito mais pessoas então dava... Aí eu entrei,
quando eu entrei, eu acho que eu já conhecia, ou não conhecia ainda... Não, eu
conhecia a menina da JOC que veio de Osasco e a Sharp já estava de olho encima
dela né...
Porque ela era
militante...
Ela era da JOC, tinha tentado organizar alguma coisa e
eles... Só que ela não tinha a experiência da clandestinidade que a gente tinha
né. Então fazia muito auê assim... Ficou até... Aí a gente fez lá, fez a
eleição para a comissão de fábrica, ela entrou...
Aí foi uma comissão
aberta mesmo, não clandestina?
Aí foi, aí foi uma conquista. E aí a prioridade era eleger
ela mesmo porque ela estava marcada. Elegemos ela, aí eu entrei também mais um
pessoalzinho, mais aí ficou.
Tinha quantas pessoas
na comissão?
Olha, a representação, eu não me lembro direito, mas a gente
tinha... Se eu pegar por nome eu sei: Eu, a Silvana, a Tina, a Dulce, o Lula, a
gente chamava ele de Lula e um menino que era a cara do cantor lá, que eu
esqueci o nome dele, ele morava em Santo André, 6 pessoas.
Mais os suplentes?
É, tinha os suplentes, mas os suplentes praticamente não
tinham muita participação ativa e tal, mas tinha suplentes. Os suplentes eu não
me lembro. Esse eu lembro porque era o pessoal que depois virou comissão de
fábrica. A CIPA era só uma desculpa para você ter estabilidade. Então foi o
pessoal que virou comissão de fábrica e foi o pessoal que em oitenta e...
Que ano que fundou a
comissão?
Acho que foi em 1986, acho que foi em 1986. Eu me lembro que
na greve, na campanha salarial unificada, não me lembro que ano que foi a
campanha salarial unificada, que unificou metalúrgicos e químicos, São Paulo e
Osasco, que era uma proposta da Oposição e aconteceu quando eu estava na Sharp.
E, a gente tinha uma briga muito grande, aliás, o cara, o PCdoB tinha já feito
a aliança com o, no sindicato... O PCdoB já estava lá [no Sindicato] e o
responsável lá na minha fábrica era o Vital, e o Vital, ele a mulher dele iam
muito, nossa, mas a gente brigava muito. (...). Era do PCdob, ele foi Deputado
eu acho, é Vital Nolasco... Eu acho que é vital Nolasco, ele veio do PCdoB, ele
era diretor do Sindicato e ele vivia na porta da Sharp e a mulher dele ia
porque era uma fábrica que tinha muita mulher. Quando chegava os ônibus assim,
era 20, 30 ônibus, sabe, só de mulher. E a gente estava discutindo que os
Químicos lá no Taboão da Serra, porque a gente tinha dificuldade para parar a
fábrica, a fábrica era muito grande, os ônibus, as vezes, eles entravam lá
dentro, como é que a gente ia fazer para parar na greve geral unificada. E o
Sindicato estava fazendo a campanha para parar, só que a gente sabia que eles
não iam parar porque eles tinham negociações com os patrões lá, tal. Ia ser
só... Então a gente discutiu com o pessoal dos químicos, a gente decidiu que a
gente ia parar a fábrica um dia antes, não ia esperar o Sindicato parar, a
gente ia parar um dia antes. Nós fizemos um... Nós éramos porra louca demais...
Hoje eu não faria isso. Nós fizemos uma loucura na fábrica. A gente combinou no domingo assim, porque a
última reunião foi lá em casa ainda, porque a gente, porque estava vendo as
coisas...
Aí quem que estava? A
comissão de fábrica...
Aí já era a comissão de fábrica, era cipeiro e comissão de
fábrica. Éramos nós mesmos, era uns gatinho pingado ali, tinha mais umas 2 ou 3
pessoas talvez. E a gente já tinha feito uma reunião junto com os químicos em
Taboão, porque é tudo assim, colado né... E o pessoal da Ninhase lá de Taboão
também não ia conseguir parar sozinho, então eles combinaram: "Então nós
vamos parar um dia antes, o caras sabe, então precisa ser num dia antes, porque
o sindicato não vai parar, e ele vai vir aqui e a gente vai fazer todo o
trabalho aqui dentro". Porque a gente estava trabalhando, fazendo a
campanha, colando adesivo, fazendo a campanha da greve. "Aí a fábrica vai
parar e ele vai crescer", olha que bobagem né, "crescer que foi ele
quem parou a fábrica, nós aqui se matando e ele vai vir e dizer que foi ele
quem parou a fábrica? Não vamos deixar isso acontecer não".
Aí, o que aconteceu... No final de semana a gente esta com
tudo isso (...), "na segunda feira a gente pára!". Aí nós combinamos,
químicos, e a gente fez estrategicamente tudo bonitinho, quer dizer, de manhã cedo,
chegamos, quando entrou todo mundo nós já fomos lá no vestiário, pichou tudo e,
chegamos e o Sindicato estava lá na porta. Eu acho que ele me odeia até hoje
por isso. Chegamos ele estava lá na porta fazendo a campanha da greve:
"amanhã gente, amanhã greve, amanhã greve, todo mundo" e tal e tal.
Nós entramos, estava tudo combinado, quando deu 9 horas... E tinha uma menina,
que chamava Maringá, esqueci dela, era uma menina da comissão da fábrica. A
Maringá que ficou responsável. Era assim, a cada 15 minutos uma ia, arrumava
uma desculpa para ir até o vestiário ou ir ao banheiro e tal. Era de seção
diferente, então dava para fazer isso né... Para olhar, para ver se estava
algum barulho, porque os químicos iam parar lá no Taboão. Na entrada, as 7
horas, eles iam descer de caminhada, então, o que eles iam fazer, quando eles
chegasse na rua da, enfrente a fábrica, nós íamos parar lá dentro e sair. Cara
[risos], foi uma loucura geral, teve mulher que até desmaiou lá dentro [risos].
Aí a Maringá, e a gente lá na linha, aí, a Maringá, a ultima vez foi ela quem
foi, aí quando ela foi para o banheiro, daqui a pouco, a minha linha ficava
perto do banheiro, daqui a pouco ela voltou entrando e fez assim [gesto com a
mão], "Opá, os caras chegaram". Aí, eu já comecei, a minha linha, eu
montava placa, aí eu pare de soltar as placas, a menina [que recebia a placa]
"E ai", eu falei: "Não, pode parar, a gente já está em greve
mesmo. A gente está em greve". A outra lá, a Silvana, na sala dela, na
seção dela, tinha campainha para apitar no horário da parada e da saída. Ah,
não deu outra, ela levantou foi lá e apertou o dedo: "Pimmmm". O
chefe: "O que que é isso? O que que é isso?". "É greve gente, é
pra parar mesmo". [risos]. E saímos fazendo arrastão dentro da fábrica,
entendeu... E fomos parando e fazendo arrastão dentro da fábrica e aí desceu o
RH, desceu tudo: "Pára, pára, pára"... E nós: "Sai da frente,
sai da frente"... E os caras lá na porta... E aí, foi uma porra-louquisse.
Foi em 1985?
Foi uma campanha unificada, acho que foi em 1986, e acho que
foi 1987, será que não? Não me lembro. 1986, eu acho que foi em 1986. Foi uma
campanha unificada de metalúrgicos e químicos, São Paulo e ABC. E a gente fez,
fez assim, tinha um povo que estava preparado para parar, mas era só em uns
pontos né, na grande maioria da fábrica estava esperando que ia parar no dia
seguinte. E agente parou e a gente saiu né. E o Vital tinha acabado de sair da
fábrica, não tinha chegado no Sindicato ainda, estava na Francisco Morato e o
Sindicato já ligou para ele e falou: "Pô", o Diretor: "Que que
é, você não disse que ia na Sharp?". Ele falou: "Eu estou saindo de
lá". "Pois é, a fábrica está parada, pode voltar". E ele voltou.
Aí a gente já foi arrastando parando tudo e acho que conseguiu ficar até o final
da greve, até o dia que acabou a greve mesmo. A gente foi em São Bernardo...
Quantos dias durou a
greve?
Eu me lembro. Me lembro que... Deve ter sido uns 4 dias, 4,
5 dias. Não lembro direito. Tinha assembleia todos os dias, o povo ia de ônibus
e tal. Foi bem legal.
Assembleias dentro da
fábrica?
Não, assembleia no Sindicato, assembleia da categoria para
decidir se a greve continuava ou não.
Ao mesmo tempo vocês
não faziam? A assembleia da fábrica mesmo?
Fazíamos, fazíamos. A gente ia todo dia lá na porta, pegavva
o pessoal, conversava, fizemos assembleia e tudo. Mas, a gente sabia que a
gente ia ser mandada embora... E fomos, mas...
A que apertou a
campainha também, claro...
É, também. Mas a gente tinha estabilidade, estabilidade
entre aspas... Mas aí a gente já preparou a fábrica, porque a gente sabia que a
gente ia. A gente ficou do lado de fora no dia, a gente entrou, quando chegou
na seção não achou o cartão, então a gente já espalhou para todo mundo. Então o
pessoal que ficou também ficou ameaçando lá, parar e tal. E denunciamos, aí o
Sindicato foi... Depois fez aquela negociação, ele deu... Negociou lá, [a
fábrica] deu advertência, deu a suspensão, tal e acabou... É muito... eu ri
muito, porque quando eu fico nervosa eu dou gargalhada, sabe, eu não aguentei
quando o cara lia aquela sentença: "Ah, está sendo exonerada por formação
de quadrilha", não sei o que, não sei o que... [risos]. Eu gargalhei...
Cara, o negócio é dramático, você ali dentro da fábrica, você está acostumado,
você não sabe o que. Daqui a pouco tem uma negociação, o Sindicato chega, a
gente lá fora, ele: "Vai subir todo mundo". Quando a gente subiu,
cara, eu pisava, assim, no tapete vermelho, meu pé afundava naquela porcaria
daquele tapete. Falei: "Gente, o que que é isso". Aquela mesa redonda
e me botaram.. Numa ponta o diretor do Sindicato e na outra ponta o diretor da
empresa, e a gente ali...
Essa sala era onde?
Lá na Sharp, lá em um lugar lá em cima que a gente não
sabia, deve ser dos diretores né. Falei: "Gente, o que que é isso".
Bom, mas aí... Mas teve muitas outras lutas né, porque a Sharp ia mudar para
Manaus então a gente... A gente tem uma coisa.. Assim, muito legal... A
Constituinte de 1987... A não, acho que foi antes... A Constituinte foi em 1987
não foi?
É 1987, 1988.
1988, então tá. Porque naquela época a Sharp estava
negociando para mudar para Manaus. Então já ia ter demissão. E aí a gente já
conseguiu aqueles 40% bem antes da... Algum tempo, uns 5, 5 meses antes da
Constituinte aprovar os 40% da rescisão, a gente conseguiu uma conquista boa,
porque ela [a Shrap] ia embora, então ela ia mandar seções por seções e a
gente, dessa vez a gente teve uma greve, mas aí, a gente fez uma greve para
conseguir essa conquista, foi uma greve interna né. Aí foi diferente, não teve essa... Naquele
momento...
Essa greve interna
foi quando?
Então, eu relaciono com a nova Constituinte porque eu lembro
que a gente recebeu isso antes de ser provada ainda a Constituinte. Então foi
um precedente assim..
Então talvez tenha
sido mesmo em 1988 mesmo...
É, 1988...
1987, 1988
1988, porque em 1989 a gente já saiu. Mas quando eu saí a
minha seção foi toda embora. Eu saí, já 2 seções tinham ido, então foi indo por
seções né... La a gente... Nem tinha um material específico... Também era
clandestino porque isso foi , já veio de antes da comissão. Depois, assim,
mesmo sendo uma comissão, o material não dava para ser assinado, porque era um
material de muita, de denúncia mesmo, de citar caso...
Como que era o nome?
Anteninha... O da Wapsa
era Motor de Partida, esse era Anteninha.
Fabricava Tv e
Rádio...
É, Anteninha...
Era bem legal. Era bem mais simples, então, porque era feito pelo pessoal né...
Então era através de denúncia mesmo, o pessoal procurava a gente e falava:
"Oh, o chefe está fazendo isso, isso. Então negando isso, isso,
isso". Então a gente citava nome, do chefe né, isso sem correr o risco de
queimar as pessoas e tal. E lá era um trabalho... Foi legal... A comissão foi chamada para negociar quando
eles [a Sharp] foram indo embora.
Quais as mobilizações
que a senhor acha que foram mais importantes na década de 1980? Das que a
senhora participou...
Na década de 1980... Mais importante para o movimento
naquele momento ou mais importante e que teve consequência para hoje? Porque é
diferente...
Naquele momento...
Naquele momento acho que foram as lutas internas na Sharp.
Principalmente na Sharp, porque na Wapsa não teve repercussão.
E a senhora combinava
essas lutas internas na Sharp com as eleições sindicais também...
Com as eleições sindicais. É então, porque em 1987 teve
eleições sindicais né... Só que, tinha um companheiro que tinha sido candidato
a presidente e que tinha ficado muito tempo desempregado e ele conseguiu um
emprego na Sharp, ficou muito pouco tempo, o Hélio Bombardi. Aí a gente já
estava lá, então a gente se comprometeu a indicar ele para a chapa de 1987. Na
Sharp, a gente realmente consegui fazer uma convenção grande. A gente se reunia
no Sindicato dos Marceneiros no Taboão, levava bastante gente e tal. Então a
gente ficou com... A gente indicou o Hélio, ele entrou na chapa, porque na,
para a representatividade era importante que ele entrasse lá, né... Estava
começando, quando ele entrou o pessoal não tinha percebido ainda que era, mais
já estava começando a ficar visado.
Nessa organização
interna da Sharp, quantas pessoas a senhora acha que participava?
Efetivamente?
É
Ah, a gente fazia reunião da fábrica quando não era...
Quando era questão específica, para fazer o boletim, a gente fazia mais
fechado, só com a comissão. Mas quando era para discutir uma questão, uma
campanha e tal, a gente chegava a fazer reuniões, assim, com 30, 40 pessoas e a
gente usava o Sindicato do Marceneiros para isso. Até as nossa reuniões as
vezes a gente fazia lá. A gente fazia té em barzinho, assim, no começo...
E o pessoal da Sharp,
votaram na Oposição?
Votaram na Oposição.
Quando contou os
votos deu para ver quantos votaram na Oposição e quantos votaram no Sinicato...
É. Não me lembro exatamente, foi mais ou menos, não foi essa
coisa toda. Porque a gente tinha um problema, de dificuldade de filiação. Como
é que você convence o trabalhador de que o Sindicato é ruim, mas que você
precisa se filiar nele, entendeu? Então você, tem uma contradição. E aí, a
grande maioria dos sindicalizados, a maioria não, boa parte dos sindicalizados
era o pessoal do administrativo e o administrativo tinha uma relação mais com a
direção do Sindicato, entendeu? Então você tem um balanço aí, então fica mais
ou menos...
E quais a senhora
acha que foram as contribuições que a Oposição deu ao sindicalismo na década de
1980? Ou mesmo para a luta de classes...
Nossa cara, eu acho que a Oposição foi muito importante para
o fortalecimento, não só de algumas oposições, né, que você tinha de outras...
Formação de oposições em outros sindicatos, sempre foram os pelegos que
estiveram nessa tradição, como também nos sindicatos pequenos que a gente
tinha, de categorias pequenas, faziam discussões juntos e a Oposição conseguia
levar essa ideia de luta, de militante, ideológica mesmo, assim, de divisão de
classe né... Uma luta mais classista né, mais... Eu acho que contribuiu muito.
Porque a gente tinha uma ligação muito forte com a oposição metalúrgica de
Guarulhos né, deixa eu ver de onde mais... Eu acho que Guarulhos, Osasco (...).
São José dos Campos
também, não tinha?
São José? São José também. São José acabou indo uma porção
de gente da Oposição daqui né... Um pessoal que era mais ligado ao, a... Que é
agora... Como que chama... Trotskista... Não me lembro... O PSTU... Tinham uns
meninos que eram da Oposição que daí foram para lá né e conseguiram...
Conseguiram organizar lá né... E parece que tiveram uma boa...
Tanto nas eleições de
1981, nas de 1987, qual a senhora acha que foi o principal motivo que levou a
Oposição a perder as eleições?
Teve uma eleição.. Olha, a maioria das perdas... eu devia
ter trazido alguma para eu recordar as datas. A maioria das perdas foi um pouco
por conta das divisões né. Você sempre tinha duas chapas de oposição. Porque
ter duas chapas de oposição? Você entende? Você tem um Sindicato tão forte..
Tem um pelego que precisa ser derrubado, o inteligente é você unir as forças
né, o inteligente é você unir as forças e não conseguia...
Qual o principal
motivo que não deixava unir? O que fazia criar essas divisões dentro da
Oposição?
Ah, é disputa ideológica, disputa de posição, não é nada
assim, de pessoal. É disputa ideológica, entendeu? É briga de posição né, de
achar que se outro ficar sozinho vai ganhar e botar tudo a perder... Aquela
coisa de não abrir mão né, pois é, é isso, eu acho que deixou alguma coisa boa.
O que que a senhora
acha que deixou?
Olha, eu acho que todas essas questões de hoje, o PT, CUT,
independente de a gente estar sempre na contra mão assim, na discussão
ideológica, vendo o lado ruim da coisa, mas a gente também sempre empurrou isso
para ir para frente, porque era importante ter um partido, importante ter um
partido, só que a gente pensava em um partido revolucionário, né, um partido de
trabalhadores que fosse revolucionário. Agora, como que ia ser isso ninguém
sabe. E formação da CUT, por exemplo, a Oposição teve papel importantíssimo, a
Oposição foi quase que um empurra...
Empurra dessa Central Única, que era a ideia da Central Única, na
ligação, no elo entre as oposições, nessa discussão toda. Acho que essa luta
foi muito importante e não pode se perder mesmo. Todas as mudanças de
democracia que a gente tem hoje também foi fruto de tudo isso. Porque a
Oposição estava em tudo, embora ela estava lá na fábrica lutando, ela estava
acompanhando o movimento o movimento da carestia ela estava, em todas as lutas,
é Diretas já, é pela Anistia, eu me lembro que a gente foi para o aeroporto
buscar o Ibrahim quando ele estava voltando do exílio...
Em 1978...
1978. Minha filha era pequenininha e até hoje ela lembra
disso, essa que mora em Minas, até hoje ela lembra disso... Eles fizeram até
uma musiquinha e foram cantando no ônibus, eu não lembro, mas ela sabe qual é a
musiquinha. Cantamos para esperar e tal. Depois voltamos todos frustrados porque
o Ibrahim nem olhou para nós né... "A Oposição, esse bando de...".
Não quis se comprometer. Mas foi muito importante tudo isso, muito importante.
E as eleições de
1989, a disputa entre o Lula e o Collor?
Nossa, foi muito importante para nós... Trabalhamos... Eu
acho que essa mudança dos trabalhadores foi o que deu uma reviravolta no país
né. Participação ativa, l´gico, porque a gente tinha uma visão crítica, é
lógico que a gente não esperava por isso, porque a gente não... Eu sempre falo,
a gente não pode se decepcionar com algumas coisas porque... É lógico,
corrupção não, porque isso daí a gente não esperava, não contava, mas a gente
nunca pensou que o Lula fosse entrar lá e não fosse fazer aliança com os
empresários... Porque era uma forma que eles tinham de se manter né... Mas
nossa, foi um grande, um grande... Mudança no País né...
E quais a senhora
acha que foram as principais mudanças no PT?
É deixa eu te flar, tem, tem diferença sim. E a diferença,
qual que é a diferença, a diferença é o jogo do poder, então assim, por
exemplo, quando você tem um partido que ele não está ainda no poder e ele é um
partido que tem uma linha, e, é muito fácil você perceber isso, pega uma tese
do PT do inicio da formação dele, pega uma tese depois de algum tempo quando já
tem uma porção de Deputados e já tem alguns prefeitos e alguma coisa. É porque
é um... Você vai se adaptando a formas para você poder se manter, continuar no
poder, porque... E não é uma coisa ruim você querer continuar no poder, você
não quer devolver o poder para a direita, não é isso? Só que as formas, as
vezes, então... E como a gente... Outro dia eu estava discutindo em casa,
conversando com eles, falando: "Gente, o problema é o seguinte, o PT não
podia fazer o jogo que a direita fez, tudo isso que está acontecendo lá, pô era
o PT. Será que precisava disso para conseguir se manter lá? Será que tudo isso?
Não sei". Então eu acho sim que as mudanças são aquelas coisas do tipo, eu
vejo, não precisa ir lá no alto, lá na direção. Pega lá mesmo, por exemplo no
Taboão da Serra, o Partido, de caras que querem ser Vereador, por exemplo, o
cara quer ser Vereador e ele enxerga que o PT é uma oportunidade para ele se
eleger. Então vai lá, conversa com o cara do PT e o cara também está pensando
em ser candidato a Prefeito, esse cara vai ter muito voto e tal, faz a filiação
do cara. E o cara vira petista, mas por uma questão meramente eleitoral, não é
ideologicamente.
Não está pensando em
mudar em transformar a estrutura social...
Ele pensa o que todo mundo pensa, porque você não pode dizer
que é só o PT que pensa, que quer um país melhor, eu também quero um país
melhor, só que é... A forma né, não é o conteúdo, a forma. E acho que isso que
fez, por exemplo, o Lula trouxe muita gente para o Partido que não era o pessoal
da, do início né, ideologicamente... E acho que as mudanças estão nisso, nas
pessoas que foram integrando o Partido e foram indo para as cabeças. Porque
acho que...
E como a senhora
avaliou o governo Lula? Os dois mandatos dele?
Gente, eu não tenho como dizer que o governo do Lula foi
ruim, eu não posso dizer isso, então, para mim, lá na periferia...
Mas, pode ser assim,
as coisas que a senhora acha positivas e as negativas...
Das positivas eu acho que, oh, melhorou muito a questão da
educação, o nível, do nível da educação na periferia né e as questões sociais.
Com todas as criticas que o pessoal faz com essa questão da Bolsa família, do Luz para todos, eu acho que era o momento, era necessário fazer
isso. E eu acho que o ruim, eu acho que é as alianças, o governar para todos, a
forma de governar para todos eu acho que é ruim, sabe. Eu digo isso porque,
depois desse período, que eu saí da Sharp, eu não consegui mais emprego (...)
entrei na PIAU, fiquei 15 dias, me mandaram embora, entrei na MICROTEC, fiquei 59 dias, me mandaram embora, eu não consegui mais emprego. Aí eu prestei
concurso em Taboão da Serra e entrei lá, eu trabalhei na (...), o meu tempo lá
como funcionária municipal pública e aí eu acabei voltando... Eu desisti
daquele negócio de química né, porque eu não ia conseguir mais estudar e eu
acabei fazendo licenciatura em matemática...
Ah, a senhora fez
licenciatura em matemática?
Fiz licenciatura em matemática depois né... E eu, no
governo, no último governo que teve que teve antes do PSDB lá em Taboão, na
prefeitura, era uma parceria PSB e PT, e eu peguei uma coordenação lá de CRAS e
eu fiquei um tempo. E, eu vi...
O CRAS era o que?
Centro de Referência da Assistente Social. É essa coisa que
o governo Lula fez né... De trabalhar a questão... Toda essa questão de
formação e tal... E, eu vi, enquanto eu estava próxima da prefeitura, eu vi que
o Governo Federal mandou muito dinheiro [ênfase], era muuuito dinheiro [mais
ênfase], era muuuito projeto [ênfase]. Porque esses projetos não foram administrados
de forma correta, então falou, falta, fiscalizações, uma série de coisas para
fazer o negócio andar né...Então eu não posso dizer que o governo dele foi
ruim. Acho que as, as coisas no meio do caminho, deve acontecer isso em todos,
as coisas no meio do caminho se desviam, sabe? E não tem muito controle... Mas
muito importante.
E do Governo Dilma, o
que a senhora achou?
Polêmico né, muito polêmico né. Muito problema né... Nossa
senhora... Bom agora acho que ela, acho que agora ela vai tomar um pouquinho a cara dela né... Será que ela vai... Heim?
Não sei... Porque o pessoal está falando que
esse ano já começou com crise já e que vai ficar mais difícil, vai ter que
fazer cortes e que ela está cedendo...
Já fez né, em São Bernardo já está mandando o povo embora
né. Não, ela já está cedendo. Está aí a reposta, aí né. A resposta está aí nas
indicações dela... Vamos ver, vamos esperar... Eu acho que assim, agora vai ter
mais a cara dela, porque agora o Lula já não vai interferir tanto né... Eu acho
que no primeiro mandato ela estava ainda meio, de outro lado ainda... Vamos
ver, esperar. Ah, vamos torcer para que não seja tão ruim, a gente não está
naquela fase de querer que "quanto pior, melhor" não né. A gente está
querendo que quanto melhor, melhor. Mas é... Foi muito importante tudo isso, é
importante na vida da gente essa questão das lutas e da consciência.
A senhora chegou a
ser presa?
Fui presa, mas não como organização política, fui presa na
greve de 1979. A gente foi preso lá no teatro, no Cine, esqueci o nome do Cine,
em Santo Amaro, na Avenida Nossa Senhora do Sabará, num domino teve uma
assembléia dos metalúrgicos onde foi decidido que ia para na segunda, na
madrugada...
Isso na greve geral
de 1979?
Em 1979, greve dos metalúrgicos. Aí, eu, a gente foi para lá
depois da assembleia né e na madrugada chegou o camburão lá e levou todo
mundo...
No meio da reunião?
Então, na verdade a gente estava, assim, tinha bastante
gente. A gente, 10 horas a gente, falamos: "A greve é amanhã, a gente já
tem gente entrando as 10 hoje, a gente já vai parar". Então, 10 horas, eu
mesmo já tinha ido numa fábrica. Nós paramos duas fábricas, 10 horas e voltamos
para lá, para poder sair as 4 da manhã. A gente estava reunido só, mas não
estava em reunião. Estávamos no mesmo local né, reunido para poder sair de
manhã junto. O comando de Santo Amaro inteirinho, praticamente quase todo mundo
estava lá, levou tudo... Ficamos 24 horas acho...
Isso era para
desmontar a greve de 1979?
Para desmontar a greve de 1979, levou todo mundo...
Mas não adiantou nada
né...
Não adiantou... Não adiantou porque ficaram alguns né... E
eles foram prendendo viu... Prendeu muita gente. A gente estava lá no DOPS a
gente só ficava vendo o povo chegando... E a greve continuou, enfraqueceu um
pouquinho no primeiro dia, mas depois, quando chegou o outro dia, já estava de
novo forte. Um movimento muito importante.
Como a senhora vê o
movimento sindical hoje? O movimento de trabalhadores, o movimento operário?
Então, a impressão que a gente... Na nossa região [Campo
Limpo] não tem fábrica, na nossa região, as fábricas foram praticamente todas
não sei para onde. então foi esvaziando e tal. O movimento do... Quase não tem
mais né... Operário mesmo, de fábrica não tem. Então, a gente tem umas
características importantes do movimento... De greves de motoristas de ônibus
é, eu acho que tem tido bastante força quando fez e tal, movimentos importantes
na cidade. Agora luta de trabalhadores, não sei agora em São Bernardo por conta
das demissões, mas é uma questão específica...
Por causa das
demissões da Volks?
É. Questão específica né, de demissão, então eu não consigo
ver os sindicatos... Também não tenho acompanhado muito isso. A gente teve...
Não tem, eu acho que falta direção, eu acho que falta um pouco... Não vejo muita
perspectiva. Mas, oh, trabalhador, na hora que vê necessidade, que vê que é
hora, ele vai, não tem muita dúvida. Não se preocupa não (...).
E a CUT, como a
senhora vê hoje?
Cabide de empregos... Não, é perigoso falar isso, mas, eu
não tenho acompanhado, então eu não posso te dizer... Na verdade eu não tenho
acompanhado...
E as jornadas de
julho de 2013? Como a senhora avaliou?
Olha, eu acho que o povo estava de saco cheio, tanta
pressão, tanta coisa, tanta necessidade, tanta proposta e nada resolvido e
aproveitou a deixa dos 20 centavos e foi para rua mostrar que estava
insatisfeito com a questão da corrupção, e tudo isso, entendeu?
Te empolgou?
Eu fui para a rua também. Fui, eu não sai procurando, o dia
que foi passar perto da minha casa eu estava por lá, fui junto. Estava sabendo
que ia, fui. É isso aí, tem que lutar né, lógico. Claro que aí tem as questões
do vandalismo que entra no meio, que aí a gente é contra porque desmoraliza e
tal, mas o povo tem que ir para rua sim. Tem que mostrar que está insatisfeito.
Senão fica tudo muito bonitinho, fácil.
Desse movimento de 1980, tem alguma coisa que
eu não perguntei que é importante registrar? Ou da sua militância mesmo...
Não, eu acho que essa questão das... Da militância, no nível
da militância dos trabalhadores na época, das mulheres, da participação, do
movimento da carestia, das mulheres indo para rua, do tal do panelaço na Praça
da Sé e tal, contra, agente chamava de carestia, mas na verdade era inflação,
eu acho que foi muito importante, eu acho que isso está tudo colocado... É
muito importante para a militância, para o país, a questão das Diretas já, a
luta pela Anistia política dos que foram, dos que foram e não puderam nunca
mais voltar... E eu acho que é uma coisa muito dinâmica, assim, enquanto você
estava na fábrica lutando, as donas de casa lutando por creches, por melhores
condições e tal, foi um período muito intenso.
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