Introdução
Após o golpe militar-burguês de
1964 com perseguição aos ativistas, militantes, dirigentes operários e
sindicatos, registrou-se um breve recuo das atividades sindicais e políticas no
país, este recuo se estendeu até 1966. Deste ano em diante, até 1968, registraram-se
novas atividades contestatórias à ordem militar e ao patronato. Em Osasco e São
Paulo formaram-se chapas de oposição contra os interventores da ditadura e
pelegos.
Em Osasco, a partir de comissões
de fábricas, a Chapa Verde vence e
conquista o Sindicato Metalúrgico da cidade em 1967. Em Minas Gerais, Contagem,
uma onda grevista foi desencadeada por cerca de 15 mil operários em abril de 1968.
Na sequência, em Osasco, a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos organiza o
operariado para intervir na comemoração Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé
e expulsar Abreu Sodré e os sindicalistas pelegos que colaboravam com a
ditadura(Confira: http://www.esquerdadiario.com.br/O-Primeiro-de-maio-de-1968-na-Praca-da-Se-rebeldia-operaria-no-dia-do-trabalho).
Em julho de 1968 deflagram greve e ocupação na Cobrasma (Confira: http://www.esquerdadiario.com.br/O-1968-operario-no-Brasil-a-greve-dos-operarios-da-Cobrasma).
Após essa onda de mobilizações o governo militar responde às mobilizações com
uma nova fase repressiva.
O ciclo da luta sindical da
classe operária paulistana passou por dois refluxos significativos: o primeiro
foi imposto no imediato pós-golpe militar (1964-1966). O segundo refluxo
seguiu-se em consequência do AI5 decretado em dezembro de 1968, estendendo-se
até 1973. As atividades
públicas e massivas do movimento operário sofreram um declínio importante, mas
mesmo sob a fase mais persecutória e sangrenta da ditadura militar-burguesa, os
operários protestavam, realizavam pequenas paralisações e greves parciais nos
locais de trabalho.
A Oposição Metalúrgica de São Paulo
Em São Paulo a Chapa Verde não
vence as eleições sindicais de 1967, mas constitui um núcleo de operários que
se organizaram progressivamente durante a década de 1970 criando a Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo, que foi uma frente de trabalhadores fabris que se inspirou diretamente no
exemplo dos operários de Osasco. Incorporando àquelas experiências, criaram comissões e grupos
clandestinos que realizaram paralisações, operação tartaruga, greves parciais e
disputa pela direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
Figura 1: Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo
A Oposição em São Paulo dá seus primeiros passos entre
1967 e 1972, sua aglutinação inicial foi motivada pelas disputas eletivas para
o Sindicato de São Paulo. A partir de 1974, além de criar dezenas de comissões
de fábricas clandestinas, criou também as interfábricas, espécie de conselhos
operários que interligava militantes de diversas fábricas da cidade. No
entanto, a expressão maior da Oposição Sindical Metalúrgica é verificada em sua
terceira fase 1975-1980. Dentre as forças políticas que compunham a
Oposição estavam: Ala Vermelha, Ação Popular, POLOP, POC, PORT, PCdoB, Grupo 1º
de Maio, membros da Pastoral Operária, militantes independentes, entre outros. O
ponto de convergência entre estas diversas correntes políticas era a
organização no chão de fábrica, com base nesta convergência se formava uma
frente de trabalhadores. Conforme nos relatou Stanislaw Szermeta, que foi
operário e militante da Oposição e do POC:
"Mas aí, esse processo todo, se dá uma coisa que
se chama, no processo de atuação nas fábricas, se dá uma ideia que se chama: Frente de Trabalhadores. Esse é o cerne
da construção das lutas dentro das fábricas. O que é a Frente de Trabalhadores? É onde está organizado, dentro da fábrica,
a garantia da unidade. Não tinha vários grupos dentro da fábrica, tinha um
grupo dentro da fábrica. Esse grupo se organizava no processo da construção da
luta das reivindicações específicas e garantia a unidade. E garantia o
programa, e garantia, por exemplo, as reivindicações. Não era uma coisa fácil,
você tinha que organizar, chamar os trabalhadores, reunir, fazer, por exemplo,
um boletim. Esse boletim era distribuído dentro da fábrica. Quem fazia isso? A
Oposição. Aí você tinha um setor organizado da Oposição que fazia esse boletim,
que era distribuído. Não pela gente, mas pelos trabalhadores, que iam lá e
distribuíam. Aí era cacete, cacete nos patrões, cacete na Diretoria [do
Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo], cacete no governo... E você tá no
meio da ditadura. Então não era também fácil distribuir. A questão foi, depois,
melhorando, entende? Mas por exemplo, tinha lugar que você tinha que distribuir
e cair fora, porque os caras chamavam a polícia. Você começava a distribuir o
material e o cara chamava a polícia. Você tinha 5 ou 10 minutos, para distribuir o material. Depois de 1978 é
que a coisa foi ganhando... Mas não tinha muita moleza". (Entrevista -
Stanislaw Szermeta).
Neste período do
"milagre" econômico (1969-1973), que foi um processo de
sobreacumulação de capital baseado na superexploração do trabalho e no
endividamento externo, nas fábricas registrava-se acelerado ritmo de trabalho,
baixos salários e milhares de acidentes. Sendo que em 1974 e 1976 o Brasil foi
campeão mundial de acidentes de trabalho. Nesse terreno desenvolve-se a
Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, opondo-se ao colaboracionismo da
diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, dirigido por Joaquinzão
pelego, a Oposição atuava denunciando as precárias condições de trabalho, ajustes
salariais em atraso, mas também as violências perpetradas pela chefia
autoritária, atrasos de pagamentos, insalubridade, falta de banheiros, falta de
refeitórios, péssima qualidade da comida servida nos restaurantes e cantinas
das fábricas, falta de equipamentos de segurança etc.
Todas estas demandas imediatas
do local de trabalho serviam como pontos de partida para abaixo-assinados, reuniões,
boletins clandestinos e formação de grupos, com isso articulavam-se paralisações
por seções e "operações tartaruga", que consiste na diminuição
organizada do ritmo de trabalho como forma de protesto. Essa variada gama de
atividades sindicais (para além das conquistas econômicas) servia também para aprofundar
a coesão entre os operários. Pois as lutas específicas, com demandas imediatas,
funcionam como pólo de aglutinação, troca de ideias, de experiências e
desenvolvimento de laços de confiança. Os operários podiam fazer experiências e
saber em quem podiam confiar politicamente. Ao mesmo tempo fortalecem a
confiança em si mesmos e na categoria. Já as correntes, tendências políticas e
partidos, atuando nesses espaços, podiam identificar os principais contatos de
seu interesse, dividindo-os entre militantes sindicais e políticos. Alguns
desses podiam ser convidados para reuniões em separado, junto àquelas
organizações e tornarem-se membros delas. Os operários mais experimentados
tornam-se base para construção de processos de luta que demandam "quadros
mais sólidos", com maior acúmulo político e teórico. Será por meio desse
trabalho que se formará uma camada de dirigentes operários ligados às bases
fabris.
Nesse processo, a Oposição
Metalúrgica de São Paulo chegou a reunir 68 metalúrgicos em um congresso
clandestino realizado em 1971. Nessa primeira fase de formação da Oposição Sindical
Metalúrgica de São Paulo (de 1967 até 1972), sua importância é maior como pólo
de aglutinação de militantes do que como uma força política com capacidade de
influência no cotidiano operário. Para essa aglutinação inicial, foi central a
perspectiva de construção de grupos de fábrica, comissões clandestinas e ampliação das bases para
além dos operários sindicalizados. Conforme relatou Cleodon Silva, que
era operário, militante da POLOP e da Oposição Sindical:
"Em 71 nós participamos, fizemos a Chapa Verde em
72, mas era assim... a Oposição não tinha...a organicidade se dava mais em
véspera de eleição, 72 foi bem isso e era assim, a organização ainda não era
por setor, era mais por trabalho existente, era assim, tinha a turma do [Waldemar]
Rossi, a turma do Dantas, a turma do Aurélio e tinha também a turma do Silva,
inventaram a turma do Silva que a gente reunia com o conjunto de trabalhadores
na fábrica e a gente já tinha uma certa expressão naquele momento. Isso em 72.
Passou a Chapa Verde, ficou de 73 a 74 era muito...a gente se encontrava, mas o
movimento ainda estava muito nessas articulações isoladas. O Aurélio [Peres] com
a turma dele lá que veio da depois da AP e os grupos se encontravam mais assim
na campanha salarial ou antecipação salarial, algumas campanhas do sindicato,
mas a organicidade ainda em termos de São Paulo não existia, era muito frágil".
(Entrevista - Cleodon Silva, concedida ao IIEP, 2007).
Hamilton Faria (1986), no
trabalho A experiência operária nos anos da resistência: a
oposição metalúrgica de São Paulo e a dinâmica do movimento operário (1964-1978)
registrou a formação de um grupo de 5 operários na fábrica Passini,
organizado por Raimundo de Oliveira coordenador da União Metalúrgica de Luta (que
era um núcleo clandestino da Oposição Sindical). Um grupo de 15 operários foi formado na Fábrica de Motores Carmos S/A,
sendo dirigido pelo operário Crispim, membro da coordenação da Oposição. Na
Lorenzetti foi formado mais um grupo com 10 operários, articulados por João
Chile, que era coordenador da União Metalúrgica de Luta, esses chegaram
inclusive a fazer uma greve em 1971 nessa empresa. Na Arno havia outro grupo de
30 operários. Na Massey Ferguson registrou-se um grupo de 5 operários dirigidos
por Hélio Bombardi. Na Villares, um grupo de 6 operários articulado por Anízio
Batista. Na AMF, um grupo de 15 operários articulados por Waldemar Rossi. Na
Hobart Dayton havia outro grupo de fábrica com mais de 10 operários organizados
por Elias Stein. Com base neste trabalho de base a Oposição disputa a direção
do Sindicato Metalúrgico de São Paulo, sua chapa recebeu 5.500 votos. A chapa
de Joaquinzão pelego venceu com 18.000 votos.
Figura 2 - panfleto da Oposição Sindical
Apud: IIEP. 2014, p. 71.
Entre as debilidades da Oposição
nessa primeira fase (1967-1972), conforme podemos conferir na publicação do
POC, Problemas de organização do movimento operário
brasileiro,
a oposição não se constituiu como alternativa suficiente na luta contra
os pelegos representantes dos interesses da patronal e da ditadura:
"Apesar de nas eleições de 1972 muitos operários da oposição compreenderem
essa perspectiva de auto-organização, na prática a oposição sindical
constituiu-se uma alternativa insuficiente ao 'peleguismo'. (POC, 1977). Isso
porque, de acordo com o balanço do POC, a oposição sindical: "limitava-se
a denunciar a traição dos pelegos sem, no entanto, procurar saídas práticas por fora da estrutura integrada".
(Idem).
Com o inicio da crise do
"milagre", a Oposição Sindical se expande
A Oposição Sindical ganha maior densidade a partir
de 1973, sobretudo por conta da nova fase de ativismo operário que se inicia.
As correntes políticas e sindicais que passaram a organizar-se em São Paulo por
causa da expansão econômica e industrial, viam na Oposição um espaço possível
de atuação. Com um grande parque produtivo, o movimento operário
paulistano torna-se um grande atrativo para as correntes de esquerda organizada
em uma variedade de grupos políticos que "giram" militantes para
inserirem-se nas fábricas, para compor a Oposição Sindical Metalúrgica, mas
também as comissões clandestinas, as interfábricas, sociedades amigos de bairro
etc. Como nos relatou Sebastião Neto, que era operário e militante da Oposição:
"(...) Pouco a pouco, foi ficando claro que o
sindicato mais importante do Brasil, operário, era o Metalúrgico de São Paulo.
Então todo mundo que podia, queria militar em São Paulo, todo mundo botou gente
aqui. Depois, você tem que pensar que a luta armada começa a se esgotar no
começo da década de 1970, também, muita gente falou: 'Puta, luta armada, não é
por aqui', vieram ajudar [na Oposição]... As vezes nem na Oposição, mas no
bairro, porque o cara estava queimado, tinha saído da cadeia, a companheira...
Então esse pessoal... Então assim, não dá pra separar muito a Oposição metalúrgica
do trabalho de bairro que é outra característica nossa. Quer dizer, a Oposição
ela nasce... Ela nasce não, ela cresce muito igual ao movimento popular, né...
Então você vai encontrar até hoje velhos que vão dizer: 'Não, eu fui da
Oposição', o cara nunca trabalhou numa fábrica, mas na cabeça dele, foi da
Oposição. A Dona Chica, lá da zona sul,
ela diz algo espetacular, ela fala assim: 'A gente era da Oposição né, aí a
gente criou o PT, aí a gente fundou a CUT, aí a gente ganhou o Sindicato dos
Químicos'... 'A gente', 'a gente', a gente para ela é um povo que fazia tudo
junto... Isso é o [movimento de] 'custo de vida', é tudo isso. Mas é um
sentimento comum a pessoa que nem foi da Oposição, mas hoje orgulhosamente...
Inclusive, tem companheiro, companheiro até de fábrica que ao te dar entrevista
fala assim: 'Eu fui da Chapa 2', não é que ele foi um dos 24, mas ele foi
'Chapa 2', 'eu sou do MOMSP', 'eu sou da Oposição' e insiste até hoje 'Eu fui
da chapa', 'eu estava naquela chapa lá', é um sentimento que nem... Sei lá...
Nessa época era ser petista, uma coisa deste tipo, 'Ah, eu sou do PT', vai ver
o cara não é do diretório, nem é filiado, mas 'Eu sou PT', na cabeça dele ele é
um cara... E ele vai em reunião, ele dá palpite, ele discute, entendeu... Com toda
a propriedade". (Entrevista -
Sebastião Neto).
Junto às correntes políticas, também os militantes
da esquerda católica, com a criação da Pastoral Operária no início da década de
1970, darão cada vez mais importância à construção da Oposição. De acordo com
relato de Cleodon Silva:
"(...) o movimento operário cristão antes de 64
fazia a crítica ao populismo, mas muito...Vinha ainda carregado de um ranço
forte anticomunista. Esse anticomunismo do movimento cristão, principalmente
católico, ele vem sendo abandonado com o surgimento da Ação Popular dentro da
própria igreja, que depois ela vai cada vez mais a passos largos assumir a luta
pelo socialismo e influindo na igreja de uma forma geral, inclusive na questão
da Teologia da Libertação. E alguns grandes representantes que batalharam
nisso, que estiveram juntos nas lutas operárias, de resistência popular, como
alguns bispos importantes, vários, que tiveram nessa linha e ajudaram muito
mesmo no processo de organização do movimento operário e que foi trabalhando a
questão da organização de base. Na medida em que se afastaram do anticomunismo
foram se aproximando do socialismo, permitiu essa junção. A nossa experiência
que vinha da esquerda possibilitou um bom diálogo com as lideranças católicas e
o Waldemar [Rossi] é um grande exemplo dessa aproximação. Até hoje o Waldemar
esteve junto com a gente em todos os momentos, inclusive até hoje tem uma
posição bem mais radical do que no passado. O Rossi é um exemplo ao contrário,
dizem que a juventude é radical né, e ele faz o caminho inverso, vai do
conservador ao radical". (Entrevista - Cleodon Silva, concedida ao IIEP,
2007).
Como podemos observar no relato de Cleodon, mesmo
setores que eram caracterizados como mais conservadores em relação às correntes
do campo da esquerda marxista, buscam superar limites político-ideológicos e
convergir com aspectos do marxismo. De acordo com Cleodon:
"(...) aos poucos com a Pastoral Operária foi
tendo abertura com a experiência que veio da Ação Popular dentro da igreja, foi
abrindo e criando uma vanguarda operária mais comprometida com o pensamento
operário e aí ele se encontrava com o pensamento socialista. Então foi possível
num determinado momento a necessidade de organizar os trabalhadores dentro das
fábricas, combater o populismo, combater todas aquelas experiências de
manipulação dos trabalhadores. Foi aproximando essa vanguarda, uma vanguarda do
movimento operário católico com o movimento operário socialista. Nós fomos
avançando cada vez mais, inclusive com a própria experiência da esquerda, da
derrota e da autocrítica da esquerda armada. Vários militantes que passaram por
essa experiência também se aproximaram da Oposição. Foi havendo uma aproximação
e um clima de debate, começou a avançar dentro da gente a necessidade, primeiro
a tolerância de reconhecer posições diferentes que pouco tempo atrás não
existia, cada um era colocado quase que como inimigo, então dentro da Oposição
foi havendo uma aproximação e reaproximação de companheiros dentro de uma
perspectiva de uma Frente de
Trabalhadores e foi consolidado todo o período mais fértil da Oposição
Metalúrgica que se deu com a prática da Frente
de Trabalhadores. Deixamos de respeitar qualquer tipo de acordo de cúpula e
organizações e começamos a basear todo o processo de organização a partir dos
trabalhos existentes e a representação do trabalho fabril. Essa relação do
conjunto desse trabalho foi o que começou a fundamentar um pensamento da
Oposição em termos de Frente de Trabalhadores". (Entrevista - Cleodon
Silva, concedida ao IIEP, 2007).
O ambiente interno da Oposição
Sindical funcionou efetivamente como uma frente
de trabalhadores que permitiu compartilhar experiências, construir atuações
conjuntas e fusionar idéias teóricas e políticas nas bases operárias. A convivência de múltiplas tendências
políticas fez com que a Oposição fosse se transformando desde as eleições sindicais
de 1967 e constituindo um programa de ação básico.
A própria conjuntura política,
com investida estatal-burguesa, obrigou os operários a entrarem em uma fase de
luta clandestina no interior das fábricas, como forma de resistência à
intensificação do ritmo de trabalho e a proibição de organizarem-se
politicamente. Assim, de acordo com depoimentos que colhemos com operárias e operários
que militaram no período 1969-1973, equivocam-se os que só enxergaram
passividade dos operários nesse período. Ainda que duramente reprimidas, a
auto-organização e paralisações não cessaram, por exemplo, operários da
Mercedes interrompem o trabalho no dia 26 de março de 1969, motivo pelo qual a
empresa demitiu 80 operários. Também nesse ano, registrou-se mobilizações na
Aliperti, em fábricas do grupo Matarazzo, na Arno e na Alfa.
Conforme registro da Ação
Popular, no boletim Libertação (1969):
"Os valentes companheiros da Mercedes fizeram uma greve em 27 de março
último sem ligar para a lei que proíbe a greve e perto de 700 a mil operários,
entre 10 mil da Mercedes, pararam reivindicando 50% de reajuste salarial".
(AÇÃO POPULAR, 1969, p. 273). No mesmo boletim acrescentam que: "Depois do
Ato 5 já houve pelo menos seis greves parciais no ABCD: na Resil, na Multibrás,
na ferramentaria da Volks, duas paradas em duas seções da Chrysler e agora essa
parada maior de várias seções da Mercedes Bens". (Idem, p. 275). Também em
1969 registrou-se greve na Villares e na Hobart Dayton. De acordo com
publicação da Oposição: "Na Arno, o pessoal fez algumas paralisações em
1968, 69 e 70, com prisões em seguida" (GET-Urplan, 1982, p. 30). Também o
jornal Voz Operária (PCB) registrou atividade operárias em 1972:
"E em São Paulo, em 1972, eclodiram onze greves
somente na área da Grande São Paulo, sendo oito no setor metalúrgico e outras
no setor gráfico, alimentação e construção civil. (...). E três greves foram
efetuadas por cima da lei antigreve, sendo duas na Aço Villares (2.600
operários) e uma na Cerâmica, todas em São Caetano, plenamente vitoriosas na
reivindicação do pagamento em dia". (VOZ OPERÁRIA, 1973, p. 90).
Em 1973, em duas das fábricas
onde a Oposição desenvolvia trabalho, Villares e Arno, são organizadas paralisações
e operações tartaruga. Também, conforme nos relatou Elias Stein, operário que
foi militante da Ala Vermelha e membro da chapa da Oposição de 1972, em 1973 os
operários da Hobart Dayton, onde trabalhava Elias, decidiram fazer uma
"greve de hora-extra" até receberem reajustes salariais.
No segundo semestre de 1973, são
deflagradas novas greves na indústria automobilística de São Bernardo:
Volkswagen, Chysler e Mercedes Benz, fazem "operação tartaruga" e
"operação zelo" (nesta a produção é reduzida com argumento de fazer
peças perfeitas). Foram todas greves sem a participação do Sindicato do ABC.
O Jornal Voz Operária, no artigo Greves em São Paulo, registrou a
sequência de greves em 1973 centradas no eixo industrial paulistano. De acordo
com o Jornal, apenas no primeiro semestre ocorreram 15 paralisações. No segundo
semestre, nova sequência de 19 greves foi registrada. As greves são motivadas
pelas precárias condições de trabalho, insalubridade, opressão da chefia,
intenso ritmo de trabalho e por reajustes salariais.
Em 1973 registrou-se greves
parciais na Villares, fábrica localizada no Cambuci-SP, com cerca de 2.500
operários. Anízio Batista, que era operário nesta fábrica, participou da
comissão clandestina que organizou paralisações por seções, foi a chamada de
"greve pipoca", um movimento onde alternavam-se as seções
paralisadas. Os operários desta fábrica chegam a realizar uma assembleia com
1.500 operários no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Ainda, depois de encerrarem
a greve, voltam a fazer uma operação
tartaruga. Essas mobilizações de 1973 na Villares foram vitoriosas. Conforme
relatou Anízio:
"Nesta época, a gente formou a comissão de
fábrica [clandestina] na Villares, isso já porque também nós tínhamos a organização
da Oposição Sindical Metalúrgica também em cima disto aí... E, talvez você não
se lembre, mas na época do Regime Militar, o Delfin Neto, que era o Ministro da
Fazenda na época, da economia... Então nós estávamos reivindicando na época,
mesmo nas assembleias sindicais, não me lembro direito quanto era, sei que nós
tínhamos uma perda salarial enorme... Então o que aconteceu, nós negociamos na
época com a patronal, naquela época por exemplo, a FIESP era na Avenida Rio
Branco, entendeu... E o Sindicato, quando nós tínhamos assembléia, tirava uma
comissão da assembleia dos metalúrgicos para acompanhar as negociações junto
com o sindicato, e eu, sempre, por várias vezes, eu acompanhei realmente as
negociações do sindicato. Eu sei que na época foi 5% que nós conseguimos de
aumento, que a empresa deu... Deu não, era uma determinação do Governo Federal
né, e nós não concordamos com aquele aumento. A gente não concordou. O que a
gente fez, porque a Villares tinha antecipado essa parte para nós já, então o que
que aconteceu... Aí a nossa organização interna por exemplo, na Villares, que
naquele tempo você fazer uma greve só numa empresa só era muito difícil... O
que nós planejamos da greve nossa na Villares foi uma novidade: a greve pipoca.
A greve pipoca era o seguinte, nos parávamos de manhã uma hora, começava a
trabalhar, parava uma hora a tarde, começava a trabalhar, dia seguinte era a
mesma coisa, parava de manhã e parava a tarde. Então a greve pipoca era assim,
nós parávamos de manhã, parava à tarde e com isso nós negociávamos com a
empresa o não-desconto da antecipação que eles tinham dado e mais 10% do
salário né. (...). E aí com todos...
Depois de uma semana, nós fazendo essa greve aí, aí a Villares acabou cedendo
na verdade. Ela cedeu mais 5 ou 6%, não me lembro bem direitinho, na época...
Então nós conseguimos essa vitória. (...). Nós tínhamos uma organização muito
bem feita dentro da empresa. Então, em cada seção, nós tínhamos uma liderança
que discutia com a gente". (Entrevista - Anízio Batista).
Esta greve na Villares, em 1973,
marcou o inicio de uma nova fase de atuação operária. Isso porque foi uma
demonstração de resistência e um desafio às imposições patronais. Desse ano em
diante, marcado pela desaceleração da economia e esgotamento do "milagre"
econômico, novas ações serão realizadas progressivamente. É este trabalho
persistente e orgânico que garante a formação inicial e construção de pólos de
militantes dentro das fábricas. De acordo com o relato de Stanislaw Szermeta:
"Então a partir do final de 1973, começo de 1974,
começa... A grande crise começa a girar em torno do petróleo, uma crise
internacional, e começa a despontar grupos e resistência dentro da fábrica, com
a proposta de grupos de fábrica. E aí que se dá o início do processo da resistência
dos trabalhadores, que é grupo de fábrica. Isso é assim... Uma coisa muito
difusa, que precisaria ter um... Eu não tenho uma visão... Mas era uma
proposta, a gente pode dizer assim... Nacional nos núcleos, nos lugares onde
houve um crescimento econômico, nas grandes concentrações de grandes empresas.
Então você vê Osasco, você vê São Paulo, Guarulhos, São Bernardo, Santo André,
Rio de Janeiro. O conjunto desses lutadores começa a gestar uma ideia da
construção de grupos de fábrica, mais ou menos final de 1973 e início de 1974.
(...). Só foi se recuperar... A luta só foi se recuperar porque era um crescimento tão violento, mas tão violento
que, por exemplo, os acidentes dentro das fábricas... Criaram um clima. O
brasileiro era campeão mundial de acidente de perda de olho na produção,
soldador, torneiro. Não era só precário, é que o ritmo era tão intenso que
(...). Vai melhorar mesmo no final de 1973 e 1974, que começa a luta, e começa
as ideias de implantação dos grupos de fábrica. Aí é que começa a luta dos
grupos de fábrica". (Entrevista - Stanislaw Szermeta).
Embora o número de operários
organizados na Oposição Sindical seja certamente pouco expressivo no que tange
à organização de todo operariado paulista, é necessário considerar que essa
militância clandestina nas fábricas assumiu importante protagonismo no ascenso
das lutas operárias de 1978-1980. Os
militantes desta fase foram os que despontaram como as principais lideranças
operárias durante a segunda metade da década de 1970. Então, não se pode tomar
o período 1969-1973, como uma fase de "silêncio e imobilismo", mas
sim como uma fase de organização da militância clandestina fabril.
1969-1973:
organização operária clandestina dentro do refluxo
Para Anízio, ao invés de
considerar o período 1969-1973 como um período de refluxo, o mais preciso seria
considerá-lo como um período de articulação orgânica dos operários e militantes
sindicais: "E aí pode ser que alguém ache que foi um certo refluxo. Eu
acho que não. Eu acho que foi a parte mais orgânica". (Entrevista - Anízio
Batista). Segundo seu relato, neste início de 1970 a Oposição já havia
constituído comissões clandestinas em várias fábricas importantes de São Paulo:
"Nós tínhamos na MWM, nós tínhamos na mesma
fábrica que o Waldemar trabalhou, não me recordo o nome, a que o Waldemar
trabalhou... Nós tínhamos a Arno, na empresa Arno, por exemplo. Na Lorenzetti
(...). A Ford aqui em São Paulo tinha, na Ford aqui no Ipiranga. (...). Muitas
comissões de fábricas... Era bastante. (...). Na zona sul era Villares,
Carterpillar, MWM. Ali na Nações Unidas, ali tinha uma infinidade de
metalúrgicas, ali era muito grande, metalúrgicas grandes..." (Entrevista -
Anízio Batista).
Conforme apontam os relatos, os grupos e comissões
clandestinas eram as principais formas de agregação de militantes no chão de
fábrica, a exemplo de Waldemar Rossi que relatou: "Ah, em toda fábrica que
eu passei, sempre formei grupos. Sempre formei. Mas aí, era bastante observado,
seguido né". (Entrevista - Waldemar Rossi). Esta mesma forma de atuação
constituída como "linha chave", era seguida como orientação principal
da Oposição Sindical Metalúrgica, nas palavras de Waldemar: "A marca da
Oposição era a organização no local de trabalho". (Entrevista - Waldemar
Rossi). Além de se organizar por fábricas, os militantes e ativistas da
Oposição, chegaram a conclusão de que era preciso articular-se para além dos
locais de trabalho. Fazia-se necessário colocar os operários das diferentes
fábricas em contato. Surgiu assim a interfábricas.
Interfábricas:
embriões de conselhos operários
Dentro desse processo de
organização por fábrica, ganha expressão, a partir de 1973-1974, as reuniões
clandestinas chamadas de interfábricas,
das quais participavam operários de várias fábricas e deliberavam por ações conjuntas.
Desta forma, as interfábricas começaram com simples encontros de operários para
discutir problemas nos locais de trabalho e militância, mas ganhou
característica de fórum auto-organizado pelos trabalhadores de várias fábricas
para deliberação de políticas sindicais conjuntas. As interfábricas constituíram
reafirmação da necessidade operária de organização pela base e construção de
fóruns comuns de articulação da luta coletiva.
Figura 3 - Forma de
funcionamento da Interfábricas
“Comissões
de Fábrica”. Cadernos publicados pela Oposição Sindical Metalúrgica de São
Paulo em 1982. In: Investigação
operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores. 2014 – São Paulo.
Conforme nos relatou
Stanislaw Szermeta, as reuniões interfábricas eram formas de reunir os
militantes mais ativos de cada fábrica, tanto para organizar uma base para a
Oposição, fortalecendo a luta contra a gestão do peleguismo, como para
articular o operariado nos locais de trabalho para greves e demais atividades
sindicais:
"Interfábricas era quando a gente reunia várias
fábricas. Era praticamente um conselho, só que não era um conselho, não tinha
esse nome, e também não tinha esse entendimento. Mas era, a ideia, você tinha
que animar, você tinha que animar, mostrar para esses trabalhadores que não era
só eles que estavam lutando. Eles não podiam ter a sensação de que só eles
estavam fazendo. Tinha que ter a sensação de que a Diretoria, o Sindicato, não
fazia esse papel. Esse papel das interfábricas era um papel tirado para animar,
para dar motivação para as lutas ganharem mais unificação. Você tinha trabalho
tanto na zona sul, na zona oeste, como na sudeste, zona leste, Mooca, você
tinha um conjunto, toda uma estrutura, organizada pela base. Inclusive, o
pessoal do Lula, esse pessoal todo, nos acusavam de ser um partido. Porque eles
falavam que a gente fazia isso mas não atuávamos no sindicato. E não é verdade
isso. Quando tínhamos condições nós íamos para o sindicato, como foi feito em
1978 e 1979. Não procede, entende?". (Entrevista - Stanislaw Szermeta).
Quantas reuniões tiveram do interfábricas?
"Centenas, centenas, centenas. Era um período,
era um período que a gente se reunia. Sei lá, Carterpillar, tinha Metal-leve,
as fábricas se reuniam em separado, fazia processo de luta. Agora, em
determinados momentos era que se fazia, mas na proximidade das lutas mais
gerais é que a gente se reunia. Mas as reuniões por fábrica..."
(Entrevista - Stanislaw Szermeta).
As interfábricas eram articuladas a partir de
chamados clandestinos, reunindo-se em Igrejas às escondidas, funcionavam como
um organismo de base para articulação da luta operária, servindo tanto para
organizar as lutas econômico-sindicais, como a luta política anti-ditatorial.
Das reuniões interfábricas participavam também militantes de correntes
políticas e partidárias que haviam estruturado trabalhos no interior das
fábricas. Hélio Bombardi, operário que trabalhava na Massey Ferguson, e começou
a militar em 1973, denota o papel que cumpria as interfábricas:
"(...) começam a acontecer final de 74, 75 o que
eu acho que é o marco, pelo menos na minha vida, que é a Interfábrica da zona
sul, que é onde as pessoas de várias fábricas diferentes da zona sul começam a
sentar pra discutir suas experiências e tinham diferentes níveis de
experiência, desde pessoas que estavam em fábricas pequenas, fábricas médias,
fábricas que eram muito difíceis, complicadas, fábricas que eram extremamente
repressivas e até algumas que eram fábricas bem maiores pra época e pro
contexto, naquela região eram fábricas de ponta de linha que era a Caterpillar,
que era a Villares, que era a Massey Ferguson e que a gente começou a fazer
essas reuniões e tinha um método que eu achava muito legal: “Como está sua
fábrica, com quantas pessoas conseguiu conversar, que tipo de discussão vocês
têm lá dentro, que tipo de problemas, vocês estão pensando em fazer alguma
coisa?”. Então cada um colocava como era a fábrica, qual era o grau de
organização, qual era o grau de problema, qual era o grau de repressão e qual a
saída. Esse coletivo, essas pessoas que participavam da Interfábricas acabavam,
de certa forma, um contribuindo com o outro pra dizer: “Olha, por que você não
tenta fazer isso? Você não acha que ainda é cedo pra ir pro enfrentamento? Não
acham que é cedo fazer um abaixo-assinado? Vocês já vão começando pedindo um
aumento de salário? Será que não é melhor começar mais leve, pedindo um
bebedouro, ou uma bota, alguma coisa de segurança?” Era uma riqueza muito
grande porque você não pensava sozinho, estava pensando com uma equipe de
companheiros e já na época, de alguns companheiros que tinham vindo de outras
experiências tipo o Stanislaw, que era uma experiência, ele já tinha sido
preso, já tinha sido solto, ao mesmo tempo o Nelson [Coquite] Japonês, ao mesmo
tempo o Rodrigues, então eram experiências diferenciadas, pessoas diferenciadas
com experiências diferenciadas. Eu acho que a riqueza da interfábricas naquele
momento foi essa. Eu particularmente gostava bastante e acho que foi uma
escola, vamos dizer assim, de discussão e de prática, porque as pessoas tinham
de dizer mais ou menos o que estavam encaminhando, o que podiam fazer, o que
estavam fazendo tal (...)". (Entrevista - Helio Bombardi, concedida ao
IIEP).
Assim, as interfábricas
funcionavam como uma forma construir a unidade operária pela base, discutindo
os problemas do local de trabalho e os níveis de organização interna. A partir
disso podia-se ter uma caracterização das principais fábricas, de como se
movimentava a patronal e repressão. E assim construir ações conjuntas e
unificadas. O relato de Hélio Bombardi elucida como se davam as ligações entre
os grupos clandestinos e as reuniões interfábricas:
"Bom começar a fazer um grupo de fábrica, começar
a discutir, ver as seções que a gente tem, conversar em horário de almoço, cada
um almoçar em locais diferentes com pessoas diferentes, e esse grupo foi
crescendo. Quando esse grupo começa a crescer bastante, também está acontecendo
a Interfábrica, uma coisa vem junto com a outra e começa a Oposição Metalúrgica
a ter zona leste, zona sul, Ipiranga. Você começa a ter um campo de atuação bem
maior. Você começa a pegar uns companheiros na fábrica e levar pras assembleias
do sindicato. Alguns desses companheiros você já levava pra participar da
Interfábrica, tirava um companheiro ou outro pra ir pra Interfábrica, ia pra
assembleia do sindicato e levava alguns companheiros pra sentir como era a
assembléia, que era barra dentro do sindicato e algumas reuniões da Oposição,
já começava em 75 a ter algumas reuniões da Oposição, levava esses companheiros
e na verdade a Oposição tinha muito essa ideia da fábrica". (Entrevista -
Helio Bombardi, concedida ao IIEP).
As interfábricas ampliavam a
perspectiva de domínio do campo de batalha para os sindicalistas e militantes.
Burlava a censura à qual estava submetida à luta sindical e política,
possibilitando colocar em evidência a organização e a luta cotidiana para além
do grupo de fábrica onde adentrava um operário. O organismo possibilitava
ampliar a consciência da organização intestina em várias fábricas por meio de
vários trabalhos e experiências em curso no chão de outras fábricas, das
condições em que eram feitos e dos obstáculos que enfrentavam. Mas é também
espaço de politização que permanece em disputa, uma vez que as correntes e
tendências políticas encontram ali um ambiente para intervenção e mediação da classe em si e a classe para si. Conforme relatou Hélio Bombardi:
"O que me marca muito é a experiência da
Interfábricas, acho que aquilo é um papel extremamente educativo pra classe,
pros operários, é uma coisa que fazia com que convivessem no mesmo espaço gente
com diferentes tendências o que era uma coisa difícil porque na época era
assim, se o cara era de uma tal organização eu não tinha nem que conversar com
ele, não é da minha organização não fica conversando muito, inclusive a
organização não gostava que se conversasse. Mas quando ia pro movimento
sindical de certa forma, não que isso não era quebrado, se tinha condições de
fazer uma conversa porque era uma frente única, era a Frente dos Trabalhadores e acabava todo mundo trocando ideia do que
estava acontecendo. Óbvio que quem era organizado voltava com aquilo pra
discutir no partido o que fazer e quem não era organizado ou os que só estavam
na metalúrgica discutiam dentro da Oposição. Diziam: “Isso ta acontecendo
dentro da minha fábrica. Dá pra ir pra luta? Não da pra ir, como vocês estão
vendo?” Esse movimento permeou 78, 79". (Entrevista - Helio Bombardi,
concedida ao IIEP).
Conforme
destacou Hélio Bombardi, a convivência de variadas tendências na frente de trabalhadores, nas reuniões
interfábricas, acabou por funcionar como meio construir coesão para ação
conjunta. Desta forma, explicita-se a relevância desse fórum conjunto. Por
outro lado, em publicação do POC - Partido Operário Comunista, que atuava na
Oposição Sindical, embora se reivindique a importância das interfábricas,
apontou-se que os seus dirigentes ainda não reconheciam completamente a
importância daquele fórum:
"O ano de 1974 mostrava uma das primeiras
experiências de organismos interfábricas
baseados na ideia das comissões operárias. Mas, apesar de seu pioneirismo -
devemos lembrar que as interfábricas eram de várias categorias profissionais -
o movimento mostra muitas debilidades, não reconhecendo inclusive sua própria
importância. A participação na campanha salarial de 1974 não mostra nenhuma
grande inovação ou avanço comparada com a de 1973". (POC, 1977, p. 203).
Os pequenos
núcleos operários nas fábricas, comissões clandestinas e as interfábricas,
ganham maior densidade e amplitude a partir da nova fase de ativismo operário
que converge com da crise política e econômica vivida pelo país após a falência
do "milagre" econômico. Além do ativismo operário, o fim do "milagre"
produziu divisões entre as frações da burguesia e crise da dominação
ditatorial, o que por sua vez abriu espaço para o fortalecimento da luta
operária.
As
jornadas de greve de 1978 em São Paulo
Durante a primeira metade da
década de 1970 registrou-se uma fase de temperamento
de quadros operários, sindicais e
políticos, onde se forjaram, em pequenas "escolas de luta",
organizadores, agitadores, propagandistas e militantes revolucionários. Durante
a segunda metade da década de 1970, em meio à retomada das lutas operárias
públicas, o acúmulo de experiências pela Oposição de São Paulo lhe
possibilitará experimentar um salto em sua construção. Parte significativa
desta camada atuará de forma qualitativa no ascenso operário de 1978-1980. A
organização na base operária percorreu toda a década de 1970 em São Paulo. Onde
destaca-se numa fase clandestina, de enraizamento no chão de fábrica (até
1974/1975) e tendo como ponto alto as mobilizações e a onda de greves de
1978-1980. Este trabalho clandestino veio à tona em 1978. Conforme relatou Hélio
Bombardi:
"De 72 até 78 quando explodiu a greve, foram seis
anos de conversa, de discussão, de organização, de passar material pros
companheiros, e passar material era aquilo: um recorte, uma noticia, pega
alguma coisa interessante que saiu no jornal e leva pra eles lerem, era um
trabalho de formiguinha no começo mas era aquele trabalho diário".
(Entrevista - Helio Bombardi, concedida ao IIEP).
Em 1977, o BIRD divulga os dados
inflacionários de 1973, denunciando a falsificação dos mesmos pela ditadura militar
brasileira, que levou a perda de 34,1% nos salários. Essa manipulação causou
grande revolta na classe trabalhadora e fomentou ainda mais a reorganização
operária no chão de fábrica. A reivindicação pela reposição dessa perda é
levantada por dezenas de sindicatos que passam a compor o Movimento pela Reposição Salarial. Conforme relatou Hélio Bombardi:
(...) quando começou a notícia que o governo tinha
passado a mão na grana nossa, manipulado a inflação aí o pessoal ficou muito
bravo. Acho que isso foi a grande coisa que o pessoal viu: “Pelo amor de deus,
por isso que a gente tá assim”. A inflação que os caras falavam era enorme e
isso deixou o pessoal muito puto: “Pô, estão roubando nosso dinheiro, manipulou
a inflação e nós vamos querer esse dinheiro”. Isso começou a ser muito
divulgado, começou em São Bernardo do Campo, Bancários de São Paulo, então
começou um movimento e começou assim: “Olha temos que fazer alguma coisa, que
resgatar alguma coisa, conseguir algum aumento”. Acho que isso é que deu condições
pra greve de 78 junto com outro elemento que permitiu que em pouco tempo fosse
acumulado muito rapidamente as coisas que foi a eleição de 78. (Entrevista -
Helio Bombardi, concedida ao IIEP em 2007).
Em maio de 1978, no ABC paulista,
operários da Scania iniciam uma greve de
braços cruzados e máquinas paradas, esta marca o início de uma torrente de
paralisações operárias na Grande São Paulo e cidades do interior. Com o ascenso das lutas
operárias em 1978, surgiram cerca de 200 comissões de fábricas em São Paulo.
Será o auge da Oposição Sindical, que além de disputar as eleições sindicais
para o Sindicato paulista em 1978, organizará a primeira greve geral
pós-ditadura militar em novembro de 1978. Em São
Paulo e Osasco as lutas de 1978 assumiram especificidades, principalmente por
conta das comissões e grupos de fábricas clandestinos. Conforme análise de
Hélio Bombardi:
"(...) em São Paulo e Osasco eu acho
que a coisa aconteceu de uma forma diferente. Aqui em São Paulo as oposições
foram para as portas de fábrica e se organizaram dentro das fábricas com as
condições dadas. As condições dadas são as seguintes: a classe realmente estava
a fim de parar, estavam todos dispostos a lutar por um aumento geral e já
existia um trabalho anterior. Em São Paulo pode-se dizer que houve uma grande
articulação e discussão de uma fábrica com outra, seja no sindicato seja nas
reuniões da oposição, com um passando a experiência para outro e mostrando de
que maneira a experiência numa fábrica pode ser aproveitada em outra. É isso
que dá a tônica diferente em São Paulo. Aqui saíram em várias fábricas
comissões reconhecidas pela direção da empresa, comissões legais com
estabilidade e até comissões que as empresas não reconhecem. Então a
experiência aqui não se encerrou numa luta econômica de um determinado momento.
Ela inclusive está avançando em outras
questões, como a questão da perseguição dentro da fábrica, a questão de
restaurante, de convênios médicos, quer dizer, a luta está procurando englobar
tudo ou pelo menos grande parte daquilo que diz respeito à vida do operário
dentro da fábrica". (Entrevista - Hélio Bombardi. In: REVISTA CARA A CARA,
1978, p. 14).
Em São Paulo a primeira greve foi a dos
operários da Toshiba, fábrica que contava com cerca de 600 operários, que iniciaram
a greve no dia 26 de maio de 1978. Foi também uma "greve de braços
cruzados". Na pauta constava 21% de aumento, melhora da alimentação,
segurança e higiene no trabalho e convênio médico. A Chapa 3, da Oposição
Sindical Metalúrgica, estava em campanha e ajudou no apoio às greves que
estavam sendo desencadeadas no ABC paulista e região. O candidato à presidência
do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo pela Chapa 3, Anízio Batista,
trabalhava na Toshiba em 1978. De acordo com seu relato:
"(...) nós fizemos uma greve na Toshiba, ai eu
fui escolhido na Toshiba para compor a chapa, depois, na assembléia geral é que
me escolheriam para ser o presidente da chapa e o Santo Dias vice-presidente (...).
Então, a greve do ABC deu um potencial, por exemplo, para deslanchar também São
Paulo. Ai, um dia eu cheguei numa reunião da Oposição, depois que as eleições
todas tinham passado, a coisa ai... Ai eu falei para a coordenação: 'Essa
semana eu paro a Toshiba!'. O pessoal se assustou né: 'Vai parar como?'. 'Não,
nós vamos parar a Toshiba'. Aí ninguém acreditava né, aí nós paramos a Toshiba
uma semana. (...). Mas 1978, por exemplo, a greve da Toshiba, nós não aceitamos
que o Sindicato [Metalúrgico de São Paulo] negociasse com a empresa (...) foi
junho de 1978, porque tinha pipocado em maio no ABC, mais ou menos por aí, maio
por aí... em junho pipocou aqui em São Paulo, ai pipocou São Paulo inteira..".
(Entrevista - Anízio Batista).
De acordo com Sofia: "E a
partir desses panfletos nós discutíamos dentro da fábrica. A gente fomentava a
discussão, a gente provocava a discussão dentro da fábrica a partir desses
panfletos". (Entrevista - Sofia). A organização que se desenvolvia durante
a década de 1970 no interior da Philco foi ainda mais estimulada com as greves
deflagradas a partir de maio de 1978, conforme relatam Maria José, que também
era operária na Philco e militante da Oposição:
Maria José: (...) Foi onde estourou a Scania em 1978,
aí foi estourando Toshiba, várias... Aí quando foi em junho a gente teve
condição de combinar uma greve. Ai nas comissões... E organizar a greve...
Sofia: mas porque já existia o grupo de fábrica...
Porque já tinha um grupo de fábrica discutindo os problemas.
Maria José: já tinha uma base...
Sofia: já tinha um grupo de fábrica discutindo os
problemas.
Então não se pode dizer que
foi assim, que tirou do nada a greve?
Sofia: Não! Para você parar uma fábrica de 8.000
funcionários...
Maria José: A maioria mulheres... Casadas...
Sofia: Vários horários. Tinha horário de turno,
horário de 17:05, horário noturno... Organizar uma fábrica de 8.000
funcionários em vários prédios, em plena ditadura militar, precisa ter um
trabalho de base consistente, senão não conseguiria. E com fundamentos, você
fundamentando o trabalhador adere, o trabalhador não é levado a fazer por
fazer, ele faz porque ele tem confiança e sabe porque que está parando...
Maria José: Sente na pele...
Sofia: É muito emocionante parar uma fábrica. Uma
greve é uma emoção muito grande porque você tem o chefe, o subchefe, o
chefinho, você tem um monte...
Maria José: Tem segurança...
Sofia: Tem segurança... Um monte de gente em cima de
você, observando você, dedo duro observando...
Maria José: E os infiltrados né Sofia, que é sempre...
Sofia: Aí é muito chefe em cima de você, é uma hierarquia
na fábrica, muito grande, para reprimir mesmo. Então você romper... Na greve
você rompe com toda essa estrutura, é muito emocionante. É muito (...). Precisa
ter coragem. Coragem porque se não você não pára a máquina. Você tem que ter
muita coragem, mais consciência política...
Não teve piquete?
Sofia: Não, essa foi de ocupação. Em junho de 1978 foi
ocupação.
Maria José: Por exemplo, a militância que entrava às 6
da manhã já combinava não ligar as máquinas. Aí quem, por exemplo, eu
trabalhava das 2 às 10, a Sofia eu não sei, eu entrava às 2 horas...
Sofia: Eu entrava às 7.
Maria José: Aí quando a gente chegava já tinha
noticias. A Rádio peão funcionava:
"Oh, o pessoal da manhã não trabalhou gente!". Tal e tal... Eu me
lembro quando veio...
Sofia: Porque a nossa turma acho que foi 9 horas, foi
marcado... 9 horas pára as máquinas...
Maria José: Quando nós chegamos às 2 horas já estava
parado. Aí é fácil né...
Já tinha começado o
movimento...
Maria José: Aí começa a pressão. A chefia vem, vem
gerente, vem tudo em cima. Eu me lembro que as minhas pernas batiam uma na
outra. Tremia, tremia, tremia e segurando (...). E eles sabiam muito bem, eles
tinham o mapeamento das lideranças.
Sofia: O mapeamento todo. A gente não sabia, mas eles
sabiam. Nós não sabíamos que eles sabiam do mapa das lideranças...
Maria José: Aí eles chegavam em cima da gente né:
"Mas é o pessoal, nós chegamos aqui já estava parado... Né, então não
vamos trabalhar (...)". E todos nós tínhamos a pauta de reivindicação nas
mãos. Todos os trabalhadores tinham acesso àquilo, já tinha sido feito. Aí:
"A nossa reivindicação é isso, isso e isso". Nós ficamos 4 dias
dentro da Philco sem trabalhar e comendo. Aí, o ultimo dia, não sei se foi na
Philco ou foi na Bosch, que eles cortaram a comida. Acho que foi na Bosch...
[risos]. E comendo, almoçando e voltando para o pátio.
Alguém trazia o almoço?
Maria José: Não, ia para o restaurante [da fábrica].
Vocês tomaram o restaurante
e começaram a cozinhar?
Maria José: Não. Nós trabalhadores dizíamos assim: "O pessoal da
cozinha tem que garantir a nossa alimentação". Eles trabalhavam, mas claro que era trabalhar
para alimentar a greve.
Uma vez decretada a greve de
braços cruzados, as operárias continuavam a se reunir dentro e fora da fábrica
para decidir os rumos daquele movimento, realizaram assembleias no refeitório
para discutir suas pautas, criaram uma comissão com 90 pessoas para negociar as
reivindicações. Chegaram a realizar assembleia com a presença de 6 mil
mulheres. O Sindicato Metalúrgico de São Paulo tentou desmobilizar a greve mas
falhou.
As comissões clandestinas da
Villares, Barbará, Jurubatuba, Filtros Mann, Gutman, General Elétric são
expressões deste inverno quente brasileiro. Também essas comissões não eram
homogêneas ideologicamente, todos os partidos, tendências e correntes políticas
procuram influenciá-las. Isso porque as comissões de fábrica, as Comissões
Internas de Prevenção de Acidentes - CIPAS, bem como os cargos de delegados
sindicais, são posições políticas importantes para as correntes que atuam no
meio sindical e operário, podem funcionar como tática de construção das
tendências e correntes, como órgão de agregação operária no chão de fábrica e
mesmo como uma tribuna operária.
As comissões e grupos de fábrica
ganham ainda mais importância naquele 1978, momento em que amplas camadas do
operariado se mostram dispostas à luta sindical e política. Em São Paulo, os
setores nucleados na Oposição Sindical Metalúrgica são alçados à crista daquela
onda grevista. Conforme nos relatou Anízio Batista:
"(...) E aí pipocou, não só em julho, né, aí as
greves nossa duraram muito tempo, porque todos os locais que nós tínhamos as
comissões de fábrica, por exemplo, foi feito greve né... Todas, Massey
Ferguson, que era grande, tinha um cara na chapa, que era o Hélio Bombardi
(...). Então eu fui fazer reuniões, por exemplo, várias empresas, por exemplo,
para colocar a experiência da Toshiba, né, e como o pessoal tinha que fazer as
coisas aí... Massey Ferguson foi uma delas que a gente foi. Depois, tinha a
Philco, aqui na zona leste, tinha... Um monte de empresa... Aí pipocou fábrica
pequena, o pessoal parava a fábrica e, por exemplo, e vinha para o sindicato,
não tinha nem coordenação, não tinha nem comissão na verdade...".
(Entrevista - Anízio Batista).
Na Philco, no dia 25 de junho, 8 mil
operárias e operários, com pautas específicas, deflagram greve. Conforme nos
relatou Sofia, que era operária na Philco, militante da Oposição e uma das
organizadoras daquela greve:
"(...) A Philco é uma fábrica com, em torno de
8.000 funcionários na época, 80% mulheres. É uma fábrica de referência na Leste
porque é a maior, fabricava televisores, rádios. E nessa fábrica havia muitos
militantes atuantes, mas na surdina, não era declarado, clandestino... E a
gente se encontrava. Nos encontrávamos uma vez por semana para discutir os
problemas da fábrica (...). Éramos um grupo de fábrica da Philco".
(Entrevista - Sofia)
Nessa fábrica a greve de braços
cruzados estendeu-se durante 4 dias. Sua realização foi precedida por um longo
processo de organização interna. No ano de 1978 são deflagradas dezenas de
greves em São Paulo, neste ano o jornal O
Metalúrgico, órgão do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo registra a
eclosão de greves em 132 empresas metalúrgicas envolvendo 117.231
trabalhadores. Destas derivaram 103 acordos salariais, sendo a maior parte
efetivada via grupo ou comissão de fábrica. (Cf. Jornal O Metalúrgico. Nº.
266/agosto/78).
As greves em São Paulo
retroalimentam o surgimento das comissões e o clima geral de insubordinação
operária na cidade, coroando-a com uma greve geral em outubro de 1978, acabaram
por paralisar todo o parque produtivo, enterrando a lei de greve e colocando em questão a política salarial da
ditadura. Conforme nos relatou Jorge Preto (operário que trabalhava na Villares
de Santo Amaro em 1978), este ano marcou o despertar da consciência de classe
no operariado:
"Então, esse ano de 1978 foi o ano, assim...
Aonde o despertar da consciência de classe, principalmente da classe operária
que é a classe que produz, começou a despertar e aí que começou a abrir
fissuras no Regime Militar, porque até a época, assim, o forte era o movimento
estudantil. Que aí, ia lá, brigava, fazia uma manifestação, mas, assim, não
arranhava o sistema. O que começou a arranhar o sistema, começou a quebrar a
muralha do sistema, praticamente, é a produção, parou a produção, aí se
questiona o sistema. Porque, o que que acontece, no despertar da consciência de
classe? Como eu falei para você, a gente começa com coisas pequenas, você vai
reivindicar assim: 'a comida está ruim, então vamos fazer um movimentozinho
para melhorar a porra dessa comida que está uma merda, esse banheiro está sujo
pra caralho'. Aí, para o operário aquilo é normal, quando ele vê essas pequenas
reivindicações, o que que aparece, qual é a primeira coisa que aparece? O que
aparece é que (...), você acha que vai negociar com o patrão, mas, quando você
vê, você não está mais negociando com o patrão, você está conversando com o
Estado. Porque, a primeira coisa, o que que o Estado fazia? Era um movimento,
por menor que seja, aí eles já mobilizavam a polícia e já montava uma barreira
na porta da fábrica para proteger a empresa. Aí, o que que o operário pensava?
'Pô, mas eu não estou fazendo nada demais, eu estou trabalhando, estou querendo
só que melhore um pouquinho o local de trabalho, eu quero no mínimo uma comida
que eu possa comer. Por que que a polícia está aqui?' Aí já abria assim: 'está
aqui para proteger o patrão'. Aí, quando
você já ia indo, assim, no processo de negociação, não era mais o patrão, já
era o sindicato, depois já não era o sindicato, era o Ministério do Trabalho e
já era o Estado. Aí é o despertar da consciência de classe. Aí você fala: 'oh,
eu não estou lutando só contra o (...) Luiz Villares [proprietário da fábrica],
eu estou lutando contra o Luiz Villares, contra a direção do sindicato dos
metalúrgicos, contra o governo do Estado e aí tem o Ministério do Trabalho que
é o Governo Federal. Sim! Aparece primeiro para nós a fábrica, só que, quando
assim, no enfrentamento você vê que é muito além da fábrica. O enfrentamento,
assim, aí o despertar da consciência de classe vem por aí... É nos primeiros
enfrentamentos. Então, assim, não há consciência sem enfrentamento. Porque se
não há enfrentamento, assim, o pessoal vai e se limitar ao fazer no dia a
dia... Tá ruim mas tá bom... Aí um dia fala assim, 'um dia vai melhorar', aí
vêm todas as crendices e tudo mais. Mas, assim, a partir do enfrentamento, o
operário, ele só se conscientiza de fato, no enfrentamento de fato, que aí ele
vai ver toda a máquina que ele está enfrentando. Ele não está enfrentando o
chefinho dele que fica lá enchendo o saco dele lá, o encarregadozinho ou o
diretor da empresa, ele vê que a coisa é bem maior, por isso que 1978 foi um
ano assim, que marcou na história do movimento operário a consciência de
classe. E isso, assim, se espalhou, se espalhou assim, para todas as regiões
fabris de São Paulo e para várias regiões do Brasil. É tanto que, muitos
militantes nossos... E eu faço um parêntese nesse patamar de espalhar o
movimento, os setores progressistas, principalmente da pastoral operária, da
JOC, da Igreja Católica, ajudou bastante". (Entrevista - Jorge Preto).
Em meio à onda grevista, de um
"despertar" massivo da consciência de classe, em oposição ao
patronato e as forças repressivas do Estado militarizado, os trabalhadores
buscam formas de se organizar para se contrapor a um poder que é evidentemente
muito maior do que o de cada operário individual. Nesse momento, buscam auto-organização
dentro e fora dos locais de trabalho, grupos de fábrica, comissões e
sindicatos. Frente a tal demanda, os militantes nucleados em torno da Oposição
Sindical Metalúrgica de São Paulo encontram condições mais favoráveis para
divulgar as mobilizações, mas também a necessidade de criação de mais comissões
de fábricas, isso porque compreendiam que era desta forma de organização que
emanava o maior poder de auto-organização operária. Conforme nos relatou Waldemar
Rossi:
"Em 1978, naquela greve das fábricas, nós
soltávamos material divulgando as greves, pegando recorte de jornal, formando
folheto e mostrando onde estava havendo greve. Soltávamos nas fábricas em
grande quantidade e isso foi gerando outras greves, e sempre colocando entre as
reivindicações a importância das comissões de fábrica: 'É onde os trabalhadores
vão ter a sua força, etc'. Foi isso que a FIESP registrou, naquele ano de 1978
na cidade de São Paulo, o conhecimento 200 comissões de fábrica, isso,
declaração da FIESP, [comissões] que não tiveram vida longa, morreram em
seguida porque não tinha nem estrutura para isso, mas algumas ficaram, como a
da MWM, na Massey Ferguson e algumas outras. E, essas, inspiraram a comissão de
fábrica da ASAMA, que é a mais evoluída politicamente (...), muito
interessante, muito rica". (Entrevista - Waldemar Rossi).
Também no mês de maio de 1978,
realizaram-se eleições para o Sindicato Metalúrgico de São Paulo. Joaquinzão
novamente lançou sua chapa pró-patronal. Nesse ano a Oposição vive a primeira
divisão importante que marcará seus os próximos anos. Um setor de sindicalistas
ligados ao PCB, dirigido por Cândido Hilário (o Bigode), ao invés de compor com
a Oposição, lança chapa própria. A Oposição lançou sua chapa apoiando-se
sobre as comissões clandestinas já existentes, nas interfábricas, nos trabalhos
nos bairros, mas sobretudo no ascenso grevístico deflagrado desde maio de 1978
no ABC paulista. No entanto, durante as votações, a chapa de Joaquinzão viola e
frauda as urnas e consegue tomar posse com a intervenção do Ministério do
Trabalho. (Veja o documentário Braços
cruzados, máquinas paradas).
Novembro de 1978: a primeira greve geral pós-golpe
militar
Em
1978 a Oposição, que se fortaleceu desde 1975, será a responsável pela
decretação da primeira greve geral pós-golpe militar. Organizando sua base de
apoio, em uma assembleia com cerca de 20 mil operários na Rua Do Carmo,
conseguiu aprovar a decretação da greve em 27 de outubro de 1978. Formou-se uma
Comissão de Salários, que chegou a contar com 100 operários. No entanto,
ao final da assembléia que decretou a greve geral em 1978, os dirigentes da
Oposição sentaram com Joaquinzão para redigir o boletim da greve, informando
que "toda e qualquer informação a respeito da greve" deveria ser
buscada no Sindicato. Assim, não conferiram qualquer autonomia à Comissão de
Salários formada na assembléia, ou mesmo à interfábricas como direção
alternativa do processo grevista. Deixaram que o poder deliberativo se
concentra-se nas mãos da diretoria pelega.
A greve geral, realizada em 30 e 31 de outubro,
colocou-se como um grande desafio para a Oposição, que estava adaptada aos
trabalhos miúdos no chão de fábrica. Em apenas dois dias, a greve envolveu
cerca de 300 mil operários, englobando São Paulo, Guarulhos e Osasco. Essa
greve influenciará objetivamente as bases operárias do ABC e na decisão da
Diretoria de São Bernardo para a decretação da greve geral em 1979.
Foto 1- Greve geral metalúrgica de
1978 em São Paulo
As mobilizações em São Paulo refletem o ânimo
geral do operariado paulista, que tem como pauta unificadora o reajuste de 70%
nos salários. Essa primeira greve geral metalúrgica coroará aquele ano com a
unificação operária e o fortalecimento da Oposição Sindical Metalúrgica de São
Paulo. Conforme relatou Jorge Preto, que militou ativamente naquele
1978, a Oposição estava determinada a decretar a greve geral em assembléia:
"(...) E, a partir daí, com a continuidade do
movimento, aconteceu greves localizadas em várias fábricas, chegou o mês de
novembro, porque era outubro que era o mês de campanha salarial, como já tinha
essa força acumulada por fábrica, a Oposição já tinha militantes em toda São
Paulo e já teve a experiência da chapa, tinha tido a eleição em maio de 1978,
no meio do ano (...). A Oposição ganhou a eleição, foi constatado várias
fraudes, foi anulada, depois o Ministro do Trabalho Arnaldo Pietro, foi ele
pessoalmente no sindicato e empossou a Diretoria, aí já tinha essa experiência
acumulada de fardo do trabalho de Oposição e na campanha salarial nós
mobilizamos os que nós podíamos para ir para o sindicato. Porque assim, mesmo
contra nós, o sindicato tinha a premissa da categoria, e o que que nos fizemos:
'Vamos mobilizar a categoria e vamos forçar o sindicato a decretar greve na
categoria'. Então essa foi uma decisão em reuniões paralelas que a gente fazia
nos bairros, principalmente nas Igrejas, né... Tinha as Igrejas aí, o setor
progressista da Igreja, eles davam muito espaço para a gente, se reunia, a
gente ia para dentro do sindicato com essa posição". (Entrevista - Jorge
Preto).
A Diretoria de Joaquinzão
prezava pelos acordos com a patronal, buscando obstruir a participação direta
das bases operárias, mas, frente às mobilizações massivas, a Diretoria ficou
encurralada e aceitou a decretação da greve. Essa seria a oportunidade para a
Oposição provar-se em meio ao ascenso operário. No entanto, como analisa
Cleodon Silva, um dos principais dirigentes da Oposição Sindical, no que tange
à direção dos rumos daquele confronto, a Oposição falhou, pois não conseguiu de
fato implementar uma orientação alternativa para aquele processo:
"Eu mesmo que fui para a sede do sindicato, junto com outros
companheiros da Oposição, vi e contatei grupos e comissões de muitas fábricas
que chegavam com os nomes de operários eleitos. Os trabalhadores não foram
ali atrás do sindicato, porque confiassem em sua diretoria. Precisavam de uma
direção, de guia para o que fazer diante da situação. Queriam conseguir 70% de
aumento e fazer a greve. E qual era a nossa orientação? Não tínhamos nem
material próprio nosso para organizar e articular as comissões e continuávamos
insistindo: tirem comissões! Hoje acho que isto foi pura demagogia. Ajudamos a
confundir a massa operária. Somos responsáveis por isto. Não aparecemos para os
trabalhadores como Oposição, com outra proposta alternativa. Não demos direção!
Perdemos uma chance de sermos a direção independente". (Entrevista - Cleodon Silva
ao GEP/Urplan: Apud: BATISTONI, 2001, p. 244 - grifos da autora).
Conforme nos relatou Sebastião Neto, que
também era operário e dirigente da Oposição:
"Tinha alguma coisa por dentro, por baixo, tá...
E tinha uma ideia, você perguntou sobre as comissões, é uma pena que na época
não tinha vídeo e tal, assim, os nossos comitês na época da greve, chegavam
centenas de operários de dezenas de fábricas: 'Queremos comissão de fábrica',
uma loucura, você não sabia... Fazia uma lista mal feita, a mão ali... 'Qual
que é a sua fábrica? Vamos fazer uma lista aqui', por que? Porque sabia que a
greve acabaria um dia e você manter... Perdeu essa porra toda, não tinha
organização para isso. Quer dizer, foi uma onda, uma onda assim... Comissão de
fábrica, estou falando de 1978 para 1979...". (Entrevista - Sebastião
Neto).
A Oposição nutria um dilema em
seu âmago: dar ou não sustentação ao Sindicato. Um setor hegemônico da Oposição
acreditava que as comissões de fábrica deveriam substituir o Sindicato. Outro
setor acreditava que o sindicato era imprescindível e deveria ser tomado. Um
terceiro setor, mais oportunista (PCB, PCdoB e MR8) optou por compor com
Joaquinzão pelego para chegar ao aparato Sindical. Em 1978, os operários vão
aos milhares à procura de seu Sindicato, com isso, o Sindicato de São Paulo é
posto no centro da luta de classes e a Oposição não consegue cercar esse
sindicato de uma base militante, influindo de forma diretiva nos rumos da greve
geral.
No momento da ação qualitativa,
em meio ao ascenso, essas indefinições prejudicaram sobremaneira sua prática. A
falta de coesão político-estratégica e programática, impunha uma forma de
atuação caótica no momento crucial da greve geral. Acostumada com os pequenos trabalhos
organizativos no chão de fábrica, mas sem enfrentar os debates estratégicos,
não pôde dar um salto de qualidade em sua atuação na hora do ascenso da luta
operária. Não atuou como uma organização preparada realmente para dirigir a
classe operária. Com isso, quem venceu foi a máquina sindical dirigida pela
burocracia pelega serviçal do empresariado industrial e da ditadura.
Além disso, as comissões de
fábrica não eram células ou núcleos da Oposição Sindical Metalúrgica de São
Paulo. Surgiram centenas de comissões autonomamente, dispersas, muito além da
iniciativa e capacidade de organização e construção da Oposição. As comissões
que surgiram em 1978, por seu próprio caráter, não puderam atuar de comum
acordo político-estratégico com a Oposição. Sobretudo porque a Oposição não
tinha tais definições.
A Oposição não era um movimento
revolucionário que formou centenas de comissões em centenas de fábricas com o
mesmo objetivo estratégico, como um todo orgânico e que podia, a partir disso
"bater como um punho só", organizando uma greve geral que envolvesse
os 400 mil operários de São Paulo, por exemplo. As centenas de comissões
surgiram "espontaneamente" em 1978-1979 como células dispersas.
Surgiram por múltiplas determinações sem constituírem-se como síntese
organizada. Embora funcionassem como elemento de mediação entre operários e
patrões, não eram parte de um todo orgânico articulado que pudesse efetivamente
colocar-se como direção alternativa. As comissões representavam a
multiplicidade do diverso, contando inclusive com grande nível de caoticidade.
Findado o ciclo grevista de 1978, a Oposição repetiria os mesmos erros
fundamentais no ano seguinte.
Ao invés da Oposição se centrar no papel do Sindicato,
buscando cercá-lo e obrigá-lo a trabalhar para as greves, focou-se nas
negociações por fábrica e na institucionalização das comissões que surgiram. Ao
invés de uma investida decidida para tomada do Sindicato, despenderam muitas
energias para a legalização das comissões como forma de isolar a ação do
Sindicato. A Oposição, com variadas tendências, não pôde oferecer um programa
coeso para a ação operária naquele ascenso, pois seu único ponto programático
era a formação de comissões.
Novembro de 1979: nova greve geral
metalúrgica em São Paulo
No ano seguinte, 1979, a Oposição organiza outra greve
geral na categoria metalúrgica. Dessa vez será uma greve mais longa que a de
1978. Essa greve será o ponto alto da organização do operariado de São
Paulo. Em marcha, os operários conquistam as ruas, formam os "piquetões",
piquetes móveis que iam de fábrica em fábrica parando a produção e convidando
mais operários para aderirem ao movimento paredista, chegam-se a organizar 15
mil operários. Todo o processo grevista dura 12 dias, encerrando-se apenas no
dia 10 de novembro.
Com a efervescência operária em
São Paulo, marcada por mobilizações no chão de fábrica, formação de comissões,
grupos clandestinos e assembléias da campanha salarial, construiu-se uma nova
greve geral decretada no dia 28 de outubro de 1979. Na madrugada, véspera de
início da greve, o governo ditatorial prende 343 operários dos Comandos de
Greve. Mesmo assim, foi impossível contê-la. O movimento avança, conquista cada
vez mais adesões, ganha auto-confiança e mais coragem para enfrentar-se com os
patrões e o regime ditatorial.
Diferentemente da greve de 1978,
na greve de 1979 a Oposição trabalhou com material próprio, com o jornal Luta Sindical. Também, em assembleia,
deliberou-se pela formação de uma Comissão de Mobilização que foi composta por
260 operários eleitos a partir das diferentes regiões. Formaram-se Comandos
Regionais de Mobilização, que contavam com independência organizativa, garantindo
a implementação das resoluções votadas em assembléia. Pois ganhar a assembleia não implicava convencer a Diretoria do
Sindicato a construir a greve e batalhar para que a luta dos trabalhadores
contra os patrões fosse vitoriosa. Os comandos formados nas regiões de maior
mobilização operária, eram abertos a participação de qualquer força política
que atuasse no interior das fábricas.
Em Santo Amaro os operários se
auto-organizaram em piquetões, que eram piquetes móveis que marchavam de
fábrica em fábrica parando a produção, conquistando as ruas e convidando mais
operários para aderirem ao movimento paredista. Eram piquetes multitudinários,
independentes, que se auto-denominavam “corrente de trabalhadores” ou
“piquetões”, que chegaram a contar com até 15 mil operários.
Foto 2 - Piquetão na
zona sul em 1979
Apud: IIEP,
2014, p. 151.
No segundo dia de mobilizações,
dia 30 de outubro, enquanto a repressão dissolve com pancadas e tiro um piquete
na frente da Indústria Sylvânia, o soldado da Polícia Militar Herculano Leonel
atira e assassina Santo Dias da Silva. O operariado, que vinha impondo-se se
contra as determinações da ditadura, já atuando em massa, responde ao
assassinato de Santo Dias com um protesto no dia seguinte (31 de outubro), que
reúne 30 mil operários. A greve continua a crescer e chega a paralisar 80% da
categoria.
Esta greve geral metalúrgica de
1979 apresentou como principal avanço organizativo os comandos regionais, que
permitiam a organização nas bases operárias nas diferentes regiões de São
Paulo, descentralizando e possibilitando expandir a auto-organização operária
para além da influência da diretoria do Sindicato. No entanto, embora melhor
organizada do que a greve de 1978, os comandos de greve acabaram por atuar de
forma desarticulada, não se conseguiu constituir um comando geral que
articulasse uma direção alternativa para o processo, o que por sua vez
tornou-se ponto fraco da greve. De acordo com relato de Cleodon Silva:
"Se a organização dos comandos foi um grande
avanço, tivemos problemas em relação à negociação durante a campanha salarial e
preparação da greve. Não conseguimos estabelecer um comando geral. Ele se dava
ainda "dentro" do sindicato, com a representação regional da
categoria, militantes das oposições, mas ainda com forte participação da ala do
Joaquim e cia, que quando perdia na votação, encaminhava as decisões com
atraso, com manobras, levando a um funcionamento bastante precário e capenga. O
funcionamento de fato, com a representação direta a partir dos comandos
regionais só aconteceu no fim da greve e já não respondia mais às necessidades".
(Entrevista - Cleodon Silva,
GEP/Urplan, apud BATISTONI, 2001, p. 282).
A não existência de um Comando Geral foi uma das principais
debilidades organizativas que impediu a articulação orgânica daquele movimento.
Conforme destacamos, a auto-organização operária ao longo da década de
1970, como formação de comissões clandestinas e frente de trabalhadores,
desempenhou importante papel na organização operária no chão de fábrica. As
greves gerais metalúrgicas em São Paulo em 1978 e 1979 constituíram ápice da
atuação operária. Dentro deste processo, a oposição encontrou condições para
ampliar seu alcance e influência. No entanto, seus erros táticos e debilidades
estratégicas impediram que fosse completamente
vitoriosa em seus objetivos.
Entre 1978-1979,
surgiram centenas de comissões autônomas, dispersas, muito além da iniciativa e
capacidade de organização e construção da Oposição Sindical Metalúrgica de São
Paulo. No entanto, as comissões e as correntes que compunham a Oposição não
podiam formar um todo orgânico e a partir disso "bater com um punho
só".
Assista
os documentários:
Cidadão
Boilisen: mostra a articulação entre industriais, empresário e os
militares.
A
luta do povo: destaca a interligação entre as luas operárias e mobilizações
nos bairros.
Braços
cruzados, máquinas paradas: sobre as eleições sindicais de 1978 em São
Paulo.
O
apito da panela de pressão: sobre a luta estudantil em 1977.
Referências
BATISTONI, M. R. Entre a fábrica e o sindicato: os dilemas da
Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (1967-1987). Tese de doutorado.
PUC. 2001.
FARIA, J.B.H. A experiência
operária nos anos da resistência: a oposição metalúrgica de São Paulo e a
dinâmica do movimento operário (1964-1978). SP. Dissertação de mestrado.
PUC. 1986.
GET/URPLAN. Nas raízes da democracia operária - a história da oposição
sindical metalúrgica de São Paulo. Cadernos do Trabalhador, nº 4. PUC. São
Paulo, 1982.
IIEP - OPOSIÇÃO SINDICAL
METALÚRGICA. Investigação operária: empresários, militares e pelegos contra os
trabalhadores. 2014 – São Paulo. Projeto Memória, 2014.
MOURA, A. O 1968 operário no Brasil: a greve dos
operários da Cobrasma. Esquerda Diário. 2016.
_______. O Primeiro de maio de 1968 na Praça da Sé:
rebeldia operária no dia do trabalho. Esquerda Diário. 2016.
PARTIDO OPERÁRIO COMUNISTA - POC. Problemas de organização do
movimento operário brasileiro. 1977. In: FREDERICO, C. (Org).
A esquerda e o movimento
operário: 1964-1984. Vol. II. Oficina de Livros. Belo Horizonte.
1990.
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